O pontificado do
Papa Francisco parece querer trazer novos ventos à Igreja. A reforma da Cúria
Romana torna-se um assunto central na agenda, após o início do saneamento da
estrutura financeira no Vaticano, mas o percurso é manifestamente longo vistas
as resistências que enfrenta.
Estas resistências acabam por ser
naturais se olharmos para as mudanças que o novo Papa tenta instituir e as
divisões que daí surgem dentro do próprio seio da Igreja, muitas vezes
decorrentes de episódios polémicos.
Apesar do positivo “efeito Francisco”
para a Igreja católica, muitos fiéis não se encontram satisfeitos e é por essas
razões que a proximidade das pessoas, com os seus problemas e vidas é
essencial, um processo que Francisco apelida de “sarar feridas”.
Contudo, esta visão pode ser travada
por resistências que após alguns meses de pontificado se tornaram mais
evidentes. Estas prendem-se sobretudo com as reformas que se pretendem
instituir ao nível interno da Cúria.
Com opiniões marcadas relativamente ao
núcleo familiar e suas obrigações ou ainda assuntos polémicos como a homossexualidade
e o aborto, pode existir um risco de acumular inimizades junto dos membros da
Igreja que o seguem. Contudo, a resposta parece ser simples. O Evangelho deve
ser colocado acima da doutrina mas ninguém deverá esperar que se mudem os
preceitos que orientam o catolicismo embora algo diferente possa acontecer e
isso prende-se com a não condenação de certos comportamentos e grupos.
Os gestos de Jorge Mario Bergoglio
cedo conquistaram multidões, sobretudo aqueles gestos que o revestem de
humildade. Mas se por um lado os seus comportamentos trouxeram a esperança de
uma nova Igreja, muitos outros agitaram-se no seu desconforto. Muitos
consideram o seu comportamento um exagero por dessacralizar a sua função mas o
objectivo é o oposto e visa fortalecer a instituição. Por outro lado, imagino várias personalidades
desagradadas com os seus discursos críticos do capitalismo sem freio” ao mesmo
tempo que luta contra o egoísmo, a demagogia e a vaidade e interesses dos
poderosos. Dando o seu exemplo de austeridade, recrimina a sociedade do consumo
e a forma como veneramos acima de tudo os bens, impõe a sua conduta aos
restantes sacerdotes e leigos.
Apesar das crises, o cristianismo
sempre mostrou uma grande capacidade de adaptação aos mais variados sinais dos
tempos, resta saber se os projectos reformistas iniciados pelo Papa argentino
se tratam de uma mudança profunda ou antes que será um processo estagnado pelos
conservadores dogmáticos.
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