02/03/2015

Ventos de mudança?

O pontificado do Papa Francisco parece querer trazer novos ventos à Igreja. A reforma da Cúria Romana torna-se um assunto central na agenda, após o início do saneamento da estrutura financeira no Vaticano, mas o percurso é manifestamente longo vistas as resistências que enfrenta.
            Estas resistências acabam por ser naturais se olharmos para as mudanças que o novo Papa tenta instituir e as divisões que daí surgem dentro do próprio seio da Igreja, muitas vezes decorrentes de episódios polémicos.
            Apesar do positivo “efeito Francisco” para a Igreja católica, muitos fiéis não se encontram satisfeitos e é por essas razões que a proximidade das pessoas, com os seus problemas e vidas é essencial, um processo que Francisco apelida de “sarar feridas”.

            Contudo, esta visão pode ser travada por resistências que após alguns meses de pontificado se tornaram mais evidentes. Estas prendem-se sobretudo com as reformas que se pretendem instituir ao nível interno da Cúria.
            Com opiniões marcadas relativamente ao núcleo familiar e suas obrigações ou ainda assuntos polémicos como a homossexualidade e o aborto, pode existir um risco de acumular inimizades junto dos membros da Igreja que o seguem. Contudo, a resposta parece ser simples. O Evangelho deve ser colocado acima da doutrina mas ninguém deverá esperar que se mudem os preceitos que orientam o catolicismo embora algo diferente possa acontecer e isso prende-se com a não condenação de certos comportamentos e grupos.
            Os gestos de Jorge Mario Bergoglio cedo conquistaram multidões, sobretudo aqueles gestos que o revestem de humildade. Mas se por um lado os seus comportamentos trouxeram a esperança de uma nova Igreja, muitos outros agitaram-se no seu desconforto. Muitos consideram o seu comportamento um exagero por dessacralizar a sua função mas o objectivo é o oposto e visa fortalecer a instituição.  Por outro lado, imagino várias personalidades desagradadas com os seus discursos críticos do capitalismo sem freio” ao mesmo tempo que luta contra o egoísmo, a demagogia e a vaidade e interesses dos poderosos. Dando o seu exemplo de austeridade, recrimina a sociedade do consumo e a forma como veneramos acima de tudo os bens, impõe a sua conduta aos restantes sacerdotes e leigos.

            Apesar das crises, o cristianismo sempre mostrou uma grande capacidade de adaptação aos mais variados sinais dos tempos, resta saber se os projectos reformistas iniciados pelo Papa argentino se tratam de uma mudança profunda ou antes que será um processo estagnado pelos conservadores dogmáticos.

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