Sou uma mulher
desiludida com o mundo em que vivo. E a principal razão é o esquecimento, as
falsas preocupações e, principalmente, a incapacidade de agir. O movimento #BringBackOurGirls
foi um fenómeno mundial, no entanto, quase um ano depois, as 200 raparigas
continuam desaparecidas e o mundo entrou, de novo, num estado de amnésia selectiva. E a violência
para com as mulheres, o abuso e o desrespeito por direitos básicos continuam. E
nós, o que fizemos verdadeiramente?
«Todos
os homens batem nas mulheres e, um dia, eu vou fazer o mesmo»[i], e é
este o “sonho” de um jovem indiano de 8 anos. Quem o pode culpar? É este o
exemplo com que ele cresceu, foi isto que lhe foi ensinado por seu pai, e é
isto que ele vê todos os dias na sociedade que o rodeia. Agora eu pergunto como
é que é possível existir, nos dias de hoje, esta crença? Revolta-me ler que, a
cada 28 minutos, acontece uma violação na India, que todos os dias, milhares de
mulheres são espancadas, violadas e mortas[ii]. E eu não
vejo nada a ser feito! O mundo vive obcecado com o crescimento económico, com a
crise financeira, e continua cego à crescente crise de valores que afunda a
nossa sociedade.
A Índia tem assistido a um aumento na inconsciência
das políticas relativas ao controlo populacional, tudo com base no ideal de que
as mulheres são inferiores, fardos para as famílias, e não merecem ser ouvidas
nem respeitadas. Neste sentido, cresce o número de abortos selectivos, em que fazem
uma festa se o bebé for varão ou, então, matam se for menina. Outra medida
muito popular são as esterilizações, muitas delas forçadas e uma grande maioria
culmina na morte destas mulheres[iii]. Os
pobres dos homens não podem fazer esta cirurgia porque têm receio de perder a
sua virilidade e, viva o sexo forte! Eu gostava de saber o que é que estes
homens vão fazer quando o número de mulheres começar a diminuir. Mas eles já
têm uma solução: O tráfico humano oriundo dos países vizinhos!
Eu vivo num mundo em que os direitos
humanos nada valem. «Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade
e em direitos», assim começa a Declaração Universal dos Direitos do Homem. Eu
pergunto:
dignidade onde? Mais interessante é o artigo 28º: Toda a pessoa tem direito a que
reine, no plano social e no plano internacional, uma ordem capaz de tornar
plenamente efectivos os direitos e as liberdades enunciados na presente
Declaração. E eu faço mais uma pergunta: temos
efectivamente tido uma ordem capaz de garantir estes direitos e liberdades? A
situação da índia, o facto de no mundo árabe existirem leis que proíbem mulheres
de conduzir, que aplicam sanções a mulheres que decidam tirar um curso superior
(acto que necessita da autorização de um membro masculino da sua família), que
proíbe a mulher de viajar, de ter um emprego ou ainda de ter uma conta bancária[iv],
só falta uma lei que proíba a mulher de viver. Tudo isto mostra que nós
enquanto sociedade internacional estamos a falhar. Infelizmente, por mais que
digam que não, o dinheiro continua a falar mais alto.
Eu
sou uma mulher que não pede igualdade, peço só justiça. Somos todos humanos,
homens ou mulheres, temos todos o direito a sermos respeitados enquanto seres
humanos, nada mais. A igualdade é algo irreal, porque todos nós queiramos ou
não, somos desiguais. Para mim o que falta no mundo não é a igualdade, é o
Respeito entre todos. O Respeito pela diferença, pela desigualdade. O Respeito
por direitos fundamentais, o Respeito perante um ser humano, o Respeito pela
liberdade de escolha, o Respeito pela vida.
Eu
sou uma mulher desiludida que continua à espera que uma mudança seja feita, e
que um dia o mundo se lembre e não se volte a esquecer.
[i] In http://www.publico.pt/mundo/noticia/todos-os-homens-indianos-batem-nas-mulheres-e-um-dia-eu-vou-fazer-o-mesmo-1631150, publicado a 16/04/2014;
[ii] Idem
[iii] Idem
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