09/03/2015

Um Mundo Esquecido..

Sou uma mulher desiludida com o mundo em que vivo. E a principal razão é o esquecimento, as falsas preocupações e, principalmente, a incapacidade de agir. O movimento  #BringBackOurGirls foi um fenómeno mundial, no entanto,  quase um ano depois, as 200 raparigas continuam desaparecidas e o mundo entrou, de novo,  num estado de amnésia selectiva. E a violência para com as mulheres, o abuso e o desrespeito por direitos básicos continuam. E nós, o que fizemos verdadeiramente?

«Todos os homens batem nas mulheres e, um dia, eu vou fazer o mesmo»[i], e é este o “sonho” de um jovem indiano de 8 anos. Quem o pode culpar? É este o exemplo com que ele cresceu, foi isto que lhe foi ensinado por seu pai, e é isto que ele vê todos os dias na sociedade que o rodeia. Agora eu pergunto como é que é possível existir, nos dias de hoje, esta crença? Revolta-me ler que, a cada 28 minutos, acontece uma violação na India, que todos os dias, milhares de mulheres são espancadas, violadas e mortas[ii]. E eu não vejo nada a ser feito! O mundo vive obcecado com o crescimento económico, com a crise financeira, e continua cego à crescente crise de valores que afunda a nossa sociedade.


A Índia tem assistido a um aumento na inconsciência das políticas relativas ao controlo populacional, tudo com base no ideal de que as mulheres são inferiores, fardos para as famílias, e não merecem ser ouvidas nem respeitadas. Neste sentido, cresce o número de abortos selectivos, em que fazem uma festa se o bebé for varão ou, então, matam se for menina. Outra medida muito popular são as esterilizações, muitas delas forçadas e uma grande maioria culmina na morte destas mulheres[iii]. Os pobres dos homens não podem fazer esta cirurgia porque têm receio de perder a sua virilidade e, viva o sexo forte! Eu gostava de saber o que é que estes homens vão fazer quando o número de mulheres começar a diminuir. Mas eles já têm uma solução: O tráfico humano oriundo dos países vizinhos!

Eu vivo num mundo em que os direitos humanos nada valem. «Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos», assim começa a Declaração Universal dos Direitos do Homem. Eu pergunto:
dignidade onde? Mais interessante é o artigo 28º: Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano internacional, uma ordem capaz de tornar plenamente efectivos os direitos e as liberdades enunciados na presente Declaração. E eu faço mais uma pergunta: temos efectivamente tido uma ordem capaz de garantir estes direitos e liberdades? A situação da índia, o facto de no mundo árabe existirem leis que proíbem mulheres de conduzir, que aplicam sanções a mulheres que decidam tirar um curso superior (acto que necessita da autorização de um membro masculino da sua família), que proíbe a mulher de viajar, de ter um emprego ou ainda de ter uma conta bancária[iv], só falta uma lei que proíba a mulher de viver. Tudo isto mostra que nós enquanto sociedade internacional estamos a falhar. Infelizmente, por mais que digam que não, o dinheiro continua a falar mais alto.

Eu sou uma mulher que não pede igualdade, peço só justiça. Somos todos humanos, homens ou mulheres, temos todos o direito a sermos respeitados enquanto seres humanos, nada mais. A igualdade é algo irreal, porque todos nós queiramos ou não, somos desiguais. Para mim o que falta no mundo não é a igualdade, é o Respeito entre todos. O Respeito pela diferença, pela desigualdade. O Respeito por direitos fundamentais, o Respeito perante um ser humano, o Respeito pela liberdade de escolha, o Respeito pela vida. 

Eu sou uma mulher desiludida que continua à espera que uma mudança seja feita, e que um dia o mundo se lembre e não se volte a esquecer.




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