12/03/2015

Nem em casa estamos seguros


Ver o nosso espaço invadido não é coisa fácil de engolir. Mesmo que as marcas deixadas não sejam evidentes, a sensação de que alguém perturbou a paz que nos é cara deixa-nos com um travo amargo na boca. A isto acrescem as perdas materiais, os estragos provocados por arrombamentos e demais intervenções, grandes gastos monetários, aflição e dor de cabeça.
Pensamos sempre que só acontece aos outros e somente quando a desgraça nos bate à porta percebemos a gravidade da situação e urge o tempo para tomarmos medidas. Afinal de contas quem haveria de julgar que o nosso próprio lar poderia ser alvo de vandalismo, roubo ou mesmo sequestro? Estamos em Portugal e apesar das agências de rating nos baixarem as nossas posições, que eu saiba não somos um país de terceiro mundo onde a violência e criminalidade é progressivamente mais atendida não deixando, contudo, de ser uma parte do dia-a-dia daqueles que vivem com ela à porta.

Mas o pior, é que a nossa mentalidade principia por ter uma formatação igual, não nos sentimos seguros na rua, viajar de transportes públicos à noite deixou de ser boa ideia, uma casa sem alarme de segurança está em perigo iminente, confiar no vizinho ou na entidade competente vai deixando de ser opção e de vez em quando até temos medo da nossa sombra.
Quantas entidades de grande vulto já foram acusadas de crimes semelhantes? Quantos casos de autoridades competentes apanhadas em flagrante não são a opinião pública testemunha? São só alguns casos que nos fazem deixar de lado a nossa boa fé e passar a ter uma atitude de alerta permanente. Aquela cara nova lá da rua pode afinal de contas não ser o novo dono do café da esquina mas um possível infiltrado para nos espiar os cantos à casa.

Acho que o modus operandi dos assaltantes actualmente é deveras despreocupado. E se não me engano, têm razões para tal. Senão vejamos, o policiamento em Portugal é na generalidade reduzido a patrulhas de trânsito e quando chamados para resolver estas situações pouco mais lhes é permitido fazer do que preencher a papelada sobre o ocorrido. Se perguntar se existe alguma possibilidade de apanhar o culpado e se o nosso depoimento foi prestável, é provável que receba um encolher de ombros e um sorriso de “é isto que temos”. De facto, com os legisladores que temos não podemos ter grandes esperanças. Se dois polícias são mortos por atropelamento enquanto perseguem dois criminosos e os mesmos são depois postos em liberdade, que esperança é suposto ter? E que conduta podemos passar a exigir dos seus colegas polícias quando o uso de uma arma de fogo para impedir actos
criminosos acaba por ser o maior dos pecados a cometer? Vale a pena denunciar? Vale, porque isso pelo menos temos o poder e o dever de fazer nem que seja por mera descarga de consciência. Se o devemos fazer pelos outros? A resposta é e parece óbvia, claro que sim embora o medo de represálias seja frequentemente uma condicionante para actuar, devemos cada vez mais zelar pela nossa própria segurança enquanto comunidade e isso também implica exercer os nossos deveres e direitos de cidadão de forma activa. A nossa justiça pode estar pouco atenta mas isso não pode significar que fechemos também nós os olhos.

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