26/03/2015

As mentalidades por trás dos maus tratos

            Recentemente, os maus tratos a animais de companhia (morte e danos físicos) passaram a ser punidos por lei. Aqueles que o fizerem sem motivos legítimos arriscam-se a uma pena de prisão que poderá chegar aos dois anos.
            No início do mês, um cão foi abatido a tiro em Monsanto pelo vizinho dos donos. Gerou-se uma onda de indignação nas redes sociais e media e ainda o apoio político da PAN. Para além disso, as organizações de protecção de animais aproveitaram o momento para reforçar os apelos para que a nova lei seja efectiva.
            Crueldade à parte, há que ter em conta as diferenças que se apresentam a nível de mentalidades. Apoio este avanço mas há que levar a questão mais a fundo porque apesar de compreender o sofrimento dos donos e me causar tristeza situações semelhantes, consigo também analisar a outra face do problema.
            Se recuarmos duas gerações facilmente concluímos que a forma como os nossos avós foram criados não é comparável com os afectos que actualmente ligam a maior parte de nós aos animais. Com grande parte da população a trabalhar de sol a sol num meio rural e com poucas perspectivas e horizontes para além do sol a pôr-se na fazenda onde o rebanho está a pastar, penso que não é de esperar que essas mesmas pessoas olhem para os animais como algo mais do que uma ferramenta de trabalho e sobretudo, uma forma de sustento.
            Como ouvi dizer, é gente mais "preparada para a vida". A falta de meios para prosseguir com os estudos ou ambicionar a uma vida com maior bem-estar faz com que estas questões que a nossa sociedade desenvolvida coloca não façam qualquer sentido há uns anos atrás. A realidade é bem mais dura para dar espaço a esse nível de preocupações.  O que tem abater o cão do vizinho a tiro se ele anda a rondar a minha casa ou se abater o próprio cão se tal se mostrar necessário nem sequer é um problema?
            A questão em causa para as pessoas que foram educadas para ganhar a vida nestes meios não só é secundária como para muitos nem sentido faz. Não podemos fazer uma comparação quando estão em jogo contextos tão distintos.

            Não considero que os actuais problemas nacionais sejam a desculpa para não analisar este assunto, não considero que o facto de existirem prioridades nos faça ter "vistas curtas". Contudo, a defesa dos direitos dos animais deve ganhar uma certa racionalidade que muitas vezes parece que se perde. Provavelmente a solução passa sobretudo pela imposição de coimas agravadas e de um exercício de prevenção visto que muitos destes casos remontam a quezílias e invejas de parte a parte sobretudo nas zonas do interior português.

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