29/03/2015

Caixas Negras

A vida é completamente imprevisível. E o Homem segue-lhe as pisadas. Num momento podemos ser as pessoas mais lúcidas e, no outro, ter vontade de fazer as coisas mais inimagináveis. Há razões que por mais que tentemos entender nunca o iremos conseguir, porque estão fora da lógica da maioria. É completamente impensável entender a razão que leva um co piloto a destruir propositadamente um avião levando com ele 149 pessoas totalmente inocentes. É impossível. Podemos continuar a questionar, mas a verdade é que por mais caixas negras que encontrem, nenhuma delas nos vai dizer o que ia na cabeça de Andreas Lubitz.  
     Tenho que confessar que o momento de entrada num avião é, para mim, muito perturbador. A minha mente navega por entre as mil e uma coisas que podem correr mal: uma tempestade incontrolável, a falha dos motores ou então uma invasão de terroristas infiltrados, mas nunca me lembrei de questionar os ímpetos suicidas dos pilotos, que naquelas horas tinham a minha vida, a dos meus e a de mais cento e tal pessoas nas suas mãos. E isto porquê? Porque na minha ingenuidade pensaria que a companhia se certificava que tinha consigo não só os melhores, os mais competentes, mas também os mais estáveis. Como eu disse, o Homem é imprevisível, e nunca nos devíamos esquecer disso. Os pilotos têm diariamente nas suas mãos a vida de milhares de pessoas que confiam neles de olhos fechados, que confiam que eles os vão levar de volta para as suas famílias; que eles os vão levar para aquela viagem que há tanto tempo sonhavam fazer; que os vão levar ao reencontro de um velho amigo que há muito não viam; colocam neles a esperança de um futuro.
Infelizmente para aquelas 149 pessoas, que descolaram de Barcelona, esse futuro foi-lhes roubado por um Homem que decidiu que devia destruir o avião. O Egoísmo humano é algo que continua a surpreender-me.
    Engane-se quem pensa que a culpa está exclusivamente naquele co piloto, a culpa está, sim, em todos aqueles que não garantiram que os seus pilotos estavam em plenas condições físicas e psicológicas para conduzirem a vida de pessoas, está naqueles que ignoraram um passado depressivo e não accionaram as medidas necessárias para garantirem que aquele Homem estava apto a voar. A culpa está naqueles que o deixaram voltar voar mesmo depois de existirem recomendações escritas de que Andreas estava inapto para tal. A inconsciência humana é algo que me choca. O Sangue de todas estas pessoas está nas mãos de todos os inconscientes que fecharam os olhos e que deram “carta branca“ para que Andreas atirasse um avião contra os Alpes.
                O 11 de Setembro trouxe consigo inúmeras medidas de segurança para garantir que situações dessas não voltassem a acontecer. Ora essa obsessão pela segurança levou a que um piloto fosse impedido de salvar o seu avião, impedi-o de voltar para os seus filhos. Fez com que muitas famílias perdessem os seus de uma forma demasiado cruel. O Homem é demasiado imprevisível, e a vida demasiado efémera.
               
               
Esta autora escreve de acordo com o antigo acordo ortográfico 


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