18/02/2015

Porquê?

    Hoje quero contar-vos uma história que me é muito próxima. É a história de um menino que tem o sonho de ser “cinemista”(como ele próprio diz). É um menino como todos os outros, com as suas preocupações e sentimentos, sonhos e desejos, que sabe do que gosta e também do que não gosta. No entanto, há algo de diferente nele, algo que o torna especial.

É que o mundo que ele vê é completamente diferente daquele em que vivemos. No seu mundo ele não suporta a mentira, a desorganização e principalmente aqueles que têm pena dele. Neste mundo só entra quem ele quer, só entram os genuínos. O mundo dele é simples, branco e preto, nele não existem segundas intenções, ou é ou não é.
Porém, este mundo existe no nosso complicado mundo. E por mais que ele pense e tente entender, ele não compreende os olhares disfarçados, os comentários julgadores, os risos incompreensivos e muito menos as palavras maldosas. Ele questiona-se porquê? Porque é que dizem que sou anormal? Deficiente? Que a culpa de ser assim é dos meus pais? Porque é que dizem “Coitadinho deixa estar que ele é deficiente”, Porquê? Porque é que me olham assim? Porque é que na escola sou sempre o último a ser escolhido? Porque é que aquele rapaz é mau para mim, se nunca lhe fiz mal? Porque é que não consigo fazer amigos?  
Todos nós temos mágoas, palavras que nos magoam, mas ele não consegue expressar-se, os sentimentos não são o seu forte, muito menos as pessoas, são muito complicadas, incompreensivas. Ele prefere a música, os seus mapas e os seus jogos. Adora descobrir novos caminhos, adora o globo e conhece-o de uma ponta a outra. E sabem porquê? Porque ao contrário das pessoas, dos ditos “normais”, estas coisas não o julgam, não o ofendem, não o confundem, são simples, só suas. Tornam o seu mundo único.          Quando lhe pergunto o que ele mais quer, sabem o que ele me responde?

«Quero ser feliz». Simples como isto. Tão humano.

Esta é a história do meu irmão, o meu menino especial. E conto-a porque hoje se celebra o Dia Mundial da Síndrome de Asperger, e por isso, queria aqui relembrar que é da responsabilidade de cada um de nós o preconceito que vive no nosso mundo. Não se iludam, todos nós somos culpados. Seja porque dizemos estas palavras maldosas, seja porque as ouvimos e não dizemos nada, seja porque olhamos e deixamos estar- não é connosco- é o que pensamos. Mas é, parte de nós, de mim e de ti mudar o pensamento de alguém. Porque acreditem que entrar no mundo de um destes meninos especiais é algo indiscritível, uma descoberta constante.

O meu menino especial ensinou-me a ver o mundo de outra forma, ajudou-me a ver as coisas de uma forma mais simples, genuína, única. Ele ensina-me todos os dias que é a diferença que nos torna especiais. Mas há algo, que ainda nenhum de nós compreende é o porquê do mundo ainda não o ver como eu o vejo. Ele tem o sonho de ser “cinemista”, e eu tenho o sonho que um dia o mundo o aceite com a sua diferença. 

3 comentários:

  1. Sugiro que o levem à Cinemateca Júnior, na Praça dos Restauradores. O "Cinemista" vai adorar!! :)

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  2. deixe emendar uma coisa, as pessoas asperger tem sentimentos tal como as outras pessoas, e até os sentem ainda com mais intensidade que qualquer pessoa dita normal pode pensar, o que acontece é que as pessoas que tem síndrome de asperger não sabem expressar correctamente o que estão a sentir e também tem uma enorme dificuldade em lidar com os sentimentos. as pessoas asperger podem ter muitas dificuldades em alguns aspectos, mas também tem coisas boas, pois são as pessoas asperger que muitas vezes conseguem mudar o mundo, tudo porque geralmente não se importam com aquilo que os outros pensam, e por isso tem a coragem de lutar pelo que querem, ao contrário das pessoas ditas normais que muitas vezes se deixam travar pelo medo do preconceito.

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  3. O preconceito não é inato, as crianças, por exemplo, não são preconceituosas podem ser cruéis mas não preconceituosas. No entanto, a sociedade rege-se por um sem número de normas e regras sociais que moldam as pessoas, muitas vezes no sentido errado, vamos crescendo e começamos a valorizar a diferença, nem sempre de uma maneira boa.
    Sei o que isso é, já o senti na pele (através do meu filho), cabe-nos um papel apenas, educar ou reeducar, ou pelo menos tentar. E seguir em frente, com um sorriso, sempre com um sorriso :)

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