Somos uma sociedade de
máscaras, do supérfluo, do que fica bem, apenas para parecer, nem que seja por
5 minutos, que, afinal, nos preocupamos com os outros ou com o estado das
coisas, e o resto? Não importa. O que interessa é que fique escrito que aquilo
foi feito, que estamos a tentar mudar, que demos o passo dos passos para mudar
o mundo, porque mudar o óbvio é fácil, mudar um pormenor é fácil, basta apagar
umas palavras aqui e ali, e voilá,
uma nova lei! E o resto?
Não basta dizermos que “isto é a base da inclusão” para
resolvermos todos os problemas que se envolvem ao redor de uma verdadeira educação
inclusiva. Eu questiono, realmente pensam que basta reescrever uma lei dizendo
que apenas se poderá reduzir uma turma, que tenha alunos com NEE (Necessidades
Educativas Especiais), caso estes estejam presentes em aula mais de 60% do
tempo, para termos a base de uma educação inclusiva? Pensam mesmo que é assim
tão fácil? Irrita-me que quem, realmente, pode fazer algo, tenha uma visão tão
fora da realidade. Desculpem-me, mas
esta não é base da inclusão!
Não, quando nas nossas escolas
continua a vencer o preconceito, quando são mais aqueles que chutam para canto,
do que aqueles que realmente lutam por todos os alunos, independentemente das
suas particularidades. Quando continua a prevalecer o pensamento “não sei lidar
com ele, vou mandá-lo para a sala de apoio, para junto dos outros”, quando não
existe um plano que apoie todos os professores para que consigam ter as bases,
para conseguirem dar o melhor apoio aos alunos que apresentem necessidades
especiais, quando existem professores do ensino especial para quem reina a lei
do menor esforço, porque é sempre mais fácil tratá-los como verdadeiros
deficientes incapazes, ou quando mesmo aqueles que lutam diariamente por uma
inclusão, não têm à sua disposição os apoios necessários, porque estamos
rodeados de uma sociedade na qual fazer o bem tem que vir acompanhado com uma
recompensa. Não iremos ter uma inclusão quando são os próprios pais dos ditos
“normais” que dizem que ter um aluno com necessidades na turma prejudica a
aprendizagem da sua filha, e que é uma incompetência esta lei, eu cá punha era
em causa a competência desta mãe, porque é sempre mais fácil atirar as pedras,
do que olharmos para o nosso próprio umbigo e pensarmos “e se fosse eu?”, “e se
fosse o meu filho, e eu ouvisse os outros pais dizerem isto?”.
A inclusão começa na mente de
cada um de nós, começa no darmos a oportunidade a que todos convivam, a que se
conheçam, a que se apoiem, temos todos a aprender uns com os outros. Acreditem,
existe algo bem mais valioso para os alunos ditos “normais” aprenderem com
alguém com qualquer deficiência física, mental ou qualquer perturbação, porque
a vida não é um mar de rosas, e não nascemos todos iguais, mas temos todos o
direito a ser respeitados, a ser incluídos, a ser tratados com dignidade e
humanidade, e quanto mais cedo todos percebermos isto, quanto mais cedo dermos
a oportunidade de todos lidarem com a diferença de frente, mais cedo teremos a
tal base para a inclusão, e não são os 60% em tempo de aula, e o fim do
aproveitamento das turmas reduzidas às custas de alunos com NEE, entretanto
esquecidos, que a vamos ter.
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