05/04/2016

"Dentro do Segredo" Review


            “Dentro do Segredo” leva-nos numa viagem ao país mais fechado do mundo. José Luís Peixoto fez parte de um grupo restrito de pessoas de diferentes nacionalidades às quais foi permitido entrar na fronteira da Coreia do Norte para assistir às comemorações do 100º aniversário do nascimento de Kim Il-sung.
            Na viagem mais longa que o governo norte-coreano autorizou, Peixoto transmite com muita fluidez os momentos mais caricatos e os marcos dessa exploração como se estivéssemos numa conversa descontraída num café, enquanto um amigo que recentemente regressou a casa nos conta as aventuras que teve do outro lado do mundo.

            Se este à vontade é cativante, certos momentos no livro reflectem um certo desconforto do autor que parece perder-se em divagações. Como seria de esperar a viagem segue um percurso sem margem para iniciativas próprias dos viajantes e movido pela máquina da propaganda e que, como tal, torna certos momentos particularmente entediantes pela exaustão face a um discurso de gravador e de constante bajulação dos grandes líderes.
            Apesar de essa exasperação conseguir roubar a atenção de alguns episódios que esperava uma análise mais cuidada não deixa de tornar deliciosos os pequenos momentos de contacto mais real e de maior proximidade, porque são tão poucos que parecem aqueles pequenas conquistas semelhantes a um sorriso que finalmente conseguimos roubar a uma criança triste depois de muitas tentativas.
            Longe de ser uma crítica social e política, o autor aborda com uma grande dose de humor e perspicácia os pormenores mais íntimos de uma sociedade para nós irreal. Apesar da dificuldade em efectivamente romper com a barreira que nos separa dos norte-coreanos, o relato não deixa de ser imparcial mas também muito superficial e sem um fio condutor.
            Penso que se trata essencialmente de um registo informal de ideias e sensações que JPL vivenciou durante aquele período e que de certa forma nos deixam uma impressão mais pessoal do que é a Coreia do Norte mas que por outro lado nos deixa a gaguejar sem saber como a definir de tão vago que se torna.
            Quando pensamos em Coreia do Norte a nossa mente fervilha de curiosidade e de perguntas, e não sei se por falta de respostas ou devido a diferentes prioridades, Peixoto acaba por desenvolver opiniões bastante subjectivas sobretudo para um país como este.

            Penso que o estilo se adequa a um relato de viagem e é nessa expectativa que deve ser julgado, a leitura é fácil e entretém, e deixa-nos com a sensação de estarmos num mundo à parte, completamente deslocados naquele teatro, e nisso José Luís Peixoto acertou em cheio.

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