“Dentro do Segredo” leva-nos numa
viagem ao país mais fechado do mundo. José Luís Peixoto fez parte de um grupo restrito
de pessoas de diferentes nacionalidades às quais foi permitido entrar na
fronteira da Coreia do Norte para assistir às comemorações do 100º aniversário do nascimento de
Kim Il-sung.
Na viagem mais longa que o governo
norte-coreano autorizou, Peixoto transmite com muita fluidez os momentos mais
caricatos e os marcos dessa exploração como se estivéssemos numa conversa descontraída
num café, enquanto um amigo que recentemente regressou a casa nos conta as
aventuras que teve do outro lado do mundo.
Se este à vontade é cativante,
certos momentos no livro reflectem um certo desconforto do autor que parece
perder-se em divagações. Como seria de esperar a viagem segue um percurso sem
margem para iniciativas próprias dos viajantes e movido pela máquina da propaganda
e que, como tal, torna certos momentos particularmente entediantes pela
exaustão face a um discurso de gravador e de constante bajulação dos grandes
líderes.
Apesar de essa exasperação conseguir
roubar a atenção de alguns episódios que esperava uma análise mais cuidada não
deixa de tornar deliciosos os pequenos momentos de contacto mais real e de
maior proximidade, porque são tão poucos que parecem aqueles pequenas
conquistas semelhantes a um sorriso que finalmente conseguimos roubar a uma
criança triste depois de muitas tentativas.
Longe de ser uma crítica social e
política, o autor aborda com uma grande dose de humor e perspicácia os
pormenores mais íntimos de uma sociedade para nós irreal. Apesar da dificuldade
em efectivamente romper com a barreira que nos separa dos norte-coreanos, o
relato não deixa de ser imparcial mas também muito superficial e sem um fio
condutor.
Penso que se trata essencialmente de
um registo informal de ideias e sensações que JPL vivenciou durante aquele
período e que de certa forma nos deixam uma impressão mais pessoal do que é a
Coreia do Norte mas que por outro lado nos deixa a gaguejar sem saber como a
definir de tão vago que se torna.
Quando pensamos em Coreia do Norte a
nossa mente fervilha de curiosidade e de perguntas, e não sei se por falta de
respostas ou devido a diferentes prioridades, Peixoto acaba por desenvolver
opiniões bastante subjectivas sobretudo para um país como este.
Penso que o estilo se adequa a um relato
de viagem e é nessa expectativa que deve ser julgado, a leitura é fácil e
entretém, e deixa-nos com a sensação de estarmos num mundo à parte,
completamente deslocados naquele teatro, e nisso José Luís Peixoto acertou em
cheio.
Sem comentários:
Enviar um comentário