25/04/2016

A Base da Inclusão


Somos uma sociedade de máscaras, do supérfluo, do que fica bem, apenas para parecer, nem que seja por 5 minutos, que, afinal, nos preocupamos com os outros ou com o estado das coisas, e o resto? Não importa. O que interessa é que fique escrito que aquilo foi feito, que estamos a tentar mudar, que demos o passo dos passos para mudar o mundo, porque mudar o óbvio é fácil, mudar um pormenor é fácil, basta apagar umas palavras aqui e ali, e voilá, uma nova lei! E o resto?
Não basta dizermos que “isto é a base da inclusão” para resolvermos todos os problemas que se envolvem ao redor de uma verdadeira educação inclusiva. Eu questiono, realmente pensam que basta reescrever uma lei dizendo que apenas se poderá reduzir uma turma, que tenha alunos com NEE (Necessidades Educativas Especiais), caso estes estejam presentes em aula mais de 60% do tempo, para termos a base de uma educação inclusiva? Pensam mesmo que é assim tão fácil? Irrita-me que quem, realmente, pode fazer algo, tenha uma visão tão fora da realidade.  Desculpem-me, mas esta não é base da inclusão!
Não, quando nas nossas escolas continua a vencer o preconceito, quando são mais aqueles que chutam para canto, do que aqueles que realmente lutam por todos os alunos, independentemente das suas particularidades. Quando continua a prevalecer o pensamento “não sei lidar com ele, vou mandá-lo para a sala de apoio, para junto dos outros”, quando não existe um plano que apoie todos os professores para que consigam ter as bases, para conseguirem dar o melhor apoio aos alunos que apresentem necessidades especiais, quando existem professores do ensino especial para quem reina a lei do menor esforço, porque é sempre mais fácil tratá-los como verdadeiros deficientes incapazes, ou quando mesmo aqueles que lutam diariamente por uma inclusão, não têm à sua disposição os apoios necessários, porque estamos rodeados de uma sociedade na qual fazer o bem tem que vir acompanhado com uma recompensa. Não iremos ter uma inclusão quando são os próprios pais dos ditos “normais” que dizem que ter um aluno com necessidades na turma prejudica a aprendizagem da sua filha, e que é uma incompetência esta lei, eu cá punha era em causa a competência desta mãe, porque é sempre mais fácil atirar as pedras, do que olharmos para o nosso próprio umbigo e pensarmos “e se fosse eu?”, “e se fosse o meu filho, e eu ouvisse os outros pais dizerem isto?”.
A inclusão começa na mente de cada um de nós, começa no darmos a oportunidade a que todos convivam, a que se conheçam, a que se apoiem, temos todos a aprender uns com os outros. Acreditem, existe algo bem mais valioso para os alunos ditos “normais” aprenderem com alguém com qualquer deficiência física, mental ou qualquer perturbação, porque a vida não é um mar de rosas, e não nascemos todos iguais, mas temos todos o direito a ser respeitados, a ser incluídos, a ser tratados com dignidade e humanidade, e quanto mais cedo todos percebermos isto, quanto mais cedo dermos a oportunidade de todos lidarem com a diferença de frente, mais cedo teremos a tal base para a inclusão, e não são os 60% em tempo de aula, e o fim do aproveitamento das turmas reduzidas às custas de alunos com NEE, entretanto esquecidos, que a vamos ter.


18/04/2016

Boa sorte Brasil

            Este domingo foi a votos na Câmara dos Deputados o denominado impeachment, processo para destituição de Dilma Rousseff aprovado com 367 votos, 137 contra e 7 abstenções. E agora? O que esperar do Brasil? Eleições em Outubro? Limitação de mandato? Ascensão de Temer?
            A responsabilidade de organização dos Jogos Olímpicos indicava a concretização de um ideal económico e de sucesso na estabilidade interna. Há ironia maior? A cerca de 4 meses do maior evento desportivo do mundo, a ser concretizado no Rio de Janeiro, o Brasil vê-se a braços com uma crise política sem solução à vista.
            O vice-presidente brasileiro Michel Temer é quem mais tem a ganhar caso se verifique a destituição de Dilma, substituindo-a nas suas funções. Por outro lado, o vice-presidente Cunha pode vir a assumir um cargo na eventual presidência de Temer (ambos membros do PMDB) mas por enquanto mantém-se como líder da Câmara baixa do Congresso ao mesmo tempo que enfrenta acusações no Supremo Tribunal Federal por suspeitas de corrupção e lavagem de dinheiro no caso LavaJato.
            Michel Temer enfrenta um pedido de destituição igual ao de Dilma e Cunha pode ser o próximo. Entre os deputados que votaram a favor da destituição de Dilma por problemas de manipulação do orçamento, existe quem tenha recebido fundos dessa mesma empresa que provocou o maior escândalo de lavagem de dinheiro do Brasil, a mesma que pôs Lula e Dilma em maus lençóis.
            Se Dilma precisava de ser afastada, este afastamento não resolve absolutamente nada tendo em conta o contexto de crise económica e politica brasileira. Se o ambiente social já era pesado, multiplicam-se as manifestações pelos vários estados brasileiros contra e a favor da destituição.
            Hipocrisia generalizada é o que pudemos verificar durante a votação do impeachment a Dilma. Dilma Rousseff não enfrenta acusações relacionadas com corrupção apesar da tentativa de protecção de Lula na investigação na operação LavaJato. O mesmo não se pode dizer de outros elementos envolvidos no processo.
            Actos de violência física, faixas de contestação a Cunha, linguagem inapropriada, insultos homofóbicos e apelos fascistas, discursos prévios à votação pautados por falso populismo e reflexo da baixeza dos deputados, entre muitas outras faltas de respeito fizeram parte deste momento da história do Brasil.

            Para além de Dilma, são estes os representantes do país. Boa sorte Brasil, vais precisar.

11/04/2016

A Vida e o Futebol

Sempre me admirou a capacidade que o futebol tem em fazer as pessoas sentirem-se parte de algo maior que elas, a união entre adeptos, os cânticos em uníssono que fazem um estádio vibrar antes de um jogo. A alegria e o orgulho com que gritámos a alto e, bom som o nosso hino. O entusiamo que nos percorre quando marcamos um golo, quando ganhamos, mas também a tristeza e a desilusão que nos preenche quando perdemos, quando vemos a nossa equipa a jogar sem alma e sem paixão. É uma espécie de amor inexplicável este que se tem por um emblema. Para quem não percebe a loucura pelo futebol, para quem não a vive, não há forma de se explicar, é algo que não se explica, sente-se, e sim, podem me chamar maluca, mas ver a minha equipa ganhar é das melhores alegrias que posso ter, e quando perdemos, é razão para não falarem para mim durante umas boas horas. Porquê? Perguntam vocês, como vos disse não se explica, sente-se.

Engraçado que o futebol acaba por ser um bom exemplar de como a vida funciona, mais ainda, de como são os comportamentos humanos. É quase como se fossem os peixinhos que o Stº António usou para criticar os podres da nossa sociedade. Um exemplar para entendermos a nossa vida quotidiana, as relações irracionais entre seres humanos e, até as discussões idiotas que preenchem o nosso dia-a-dia. Tudo isso se reflete no futebol, a tudo isso assistimos nos 90 minutos de jogo, e nos pré e pós jogos, não acreditam? Ora pensem, a importância que um mísero penálti, que não foi marcado, a suposta bola na mão, que foi ou não foi, ou o malfadado fora de jogo, que assombra os finais de jogos e que provoca acesas discussões que, mais vezes do que devia, acabam em pancadarias, quais homens das cavernas que se reviram todos quando alguém ousa por em causa o seu emblema, é mais ou menos, como aquelas discussões absurdas por um lugar de estacionamento, por exemplo. Temos ainda, aqueles espécimes que pulam de contentamento quando a equipa adversária perde, mais do que quando a própria equipa ganha. Sabem como aqueles que levados pela inveja, festejam com champagne o mal que aos outros acontece, só porque isso lhes trouxe alguma vantagem, que vai na volta acaba por nem ser nada de especial. Mais, aqueles que se esquecem que acima de tudo somos portugueses e, que o facto de uma equipa estar a fazer uma boa campanha na liga maior, é bom, é uma coisa boa. Sim, meus caros, sou uma portista que ficará contente se o Benfica conseguir ultrapassar o Bayern (não fiquem tão surpreendidos, ainda existem estas espécimes raras).
Um dos meus preferidos, são aqueles finais de jogos em que acaba tudo como se de uma selva se tratasse, todos engalfinhados, sem sequer terem uma razão para tal. Meus caros, “as cores” de cada um não justificam essas coisas, somos seres racionais, sim? Usem a cabeça!
Aprecio imenso, aquelas exemplares formas de fairplay (ou não) quando se queima bandeiras, se atiram pedras, veryligth’s ou cabeças de porco, ou ainda quando se desligam luzes e se liga a rega, é bonito, não acham? O ser humano consegue ser um ser tão simpático. A raiva com que se fica de um jogador, quando este, qual ultraje, ousa mudar de clube, e o menino bonito passa a maça podre, assim num estalar de dedos, é algo que me faz alguma comichão. Expliquem-me lá também reagem assim quando o vosso companheiro de trabalho, decide mudar de empresa? É o fim da amizade, é isso? Sim, o mesmo se aplica a treinadores.

E como último conselho, meus caros, não se deixem sugar por esse peixe traquina chamado memória curta. Não se esqueçam num momento estamos no topo, no outro podemos bater no fundo. Num somos os melhores, no outro as ovelhas negras que ninguém quer. Até o Special One virou The Fired One. E no final das contas, é como na vida real, é quando estamos lá no fundo que vemos quem são os verdadeiros, aqueles que estarão sempre lá a apoiar-nos, a gritar por nós, a vibrar por nós e connosco, mas é também nestes momentos que vemos quem devemos dispensar, quem não tem a força suficiente para aguentar e sai de campo, sem dar luta. Quem simplesmente só está lá, quando estamos no topo, e sinceramente, quem é que quer esses peixes? Veem? Afinal até temos algumas coisitas a aprender com o futebol, mas sim continua a ser um amor e uma loucura inexplicável, mas no topo ou no fundo, o meu coração será sempre azul e branco.


05/04/2016

"Dentro do Segredo" Review


            “Dentro do Segredo” leva-nos numa viagem ao país mais fechado do mundo. José Luís Peixoto fez parte de um grupo restrito de pessoas de diferentes nacionalidades às quais foi permitido entrar na fronteira da Coreia do Norte para assistir às comemorações do 100º aniversário do nascimento de Kim Il-sung.
            Na viagem mais longa que o governo norte-coreano autorizou, Peixoto transmite com muita fluidez os momentos mais caricatos e os marcos dessa exploração como se estivéssemos numa conversa descontraída num café, enquanto um amigo que recentemente regressou a casa nos conta as aventuras que teve do outro lado do mundo.

            Se este à vontade é cativante, certos momentos no livro reflectem um certo desconforto do autor que parece perder-se em divagações. Como seria de esperar a viagem segue um percurso sem margem para iniciativas próprias dos viajantes e movido pela máquina da propaganda e que, como tal, torna certos momentos particularmente entediantes pela exaustão face a um discurso de gravador e de constante bajulação dos grandes líderes.
            Apesar de essa exasperação conseguir roubar a atenção de alguns episódios que esperava uma análise mais cuidada não deixa de tornar deliciosos os pequenos momentos de contacto mais real e de maior proximidade, porque são tão poucos que parecem aqueles pequenas conquistas semelhantes a um sorriso que finalmente conseguimos roubar a uma criança triste depois de muitas tentativas.
            Longe de ser uma crítica social e política, o autor aborda com uma grande dose de humor e perspicácia os pormenores mais íntimos de uma sociedade para nós irreal. Apesar da dificuldade em efectivamente romper com a barreira que nos separa dos norte-coreanos, o relato não deixa de ser imparcial mas também muito superficial e sem um fio condutor.
            Penso que se trata essencialmente de um registo informal de ideias e sensações que JPL vivenciou durante aquele período e que de certa forma nos deixam uma impressão mais pessoal do que é a Coreia do Norte mas que por outro lado nos deixa a gaguejar sem saber como a definir de tão vago que se torna.
            Quando pensamos em Coreia do Norte a nossa mente fervilha de curiosidade e de perguntas, e não sei se por falta de respostas ou devido a diferentes prioridades, Peixoto acaba por desenvolver opiniões bastante subjectivas sobretudo para um país como este.

            Penso que o estilo se adequa a um relato de viagem e é nessa expectativa que deve ser julgado, a leitura é fácil e entretém, e deixa-nos com a sensação de estarmos num mundo à parte, completamente deslocados naquele teatro, e nisso José Luís Peixoto acertou em cheio.

02/04/2016

A Verdade da Mentira


Nós, seres humanos, o expoente máximo da evolução, somos seres verdadeiramente mentirosos. E não, esta não é mentira, é mesmo a verdade das verdades.
Sejamos sinceros, o que seríamos nós sem a mentira? Não me interpretem mal, se há coisa que abomino são as mentiras propositadas, que muitos usam como meio para magoar, quem menos merecia. Mas não é disso que falo. Falo das mentiras que reinam no nosso dia – a – dia, e que sem elas, teríamos uma vida bem diferente.
Pensem, como seria a nossa vida sem a mentira? Não pensem nas grandes mentiras, mas naquelas pequenas coisas, que muitas vezes nem nos apercebemos. Como as três badaladas palavras “Está tudo bem” quando nos perguntam como estamos, quando na verdade tudo aquilo que, menos estamos é bem, e na verdade até queríamos deitar tudo cá para fora, mas não queremos chatear, e por isso mentimos! Ou quando nos pedem a opinião sobre alguma peça de vestuário, e se calhar, porque não temos tanto à vontade com a pessoa, dizemos “sim, fica”, quando na nossa cabeça só nos passa “como é que ela consegue usar aquilo?”. Temos ainda, o típico exemplo, de quem odeia o patrão, rogando-lhe todas as pragas, mas quando chega a hora da verdade, quanto mais botas se puder lamber, melhor! Perdoem-me a expressão, mas esta é a verdade.
Para não falarmos, de tudo aquilo que comentamos sobre alguém, e nunca esses comentários são feitos à frente da pessoa em causa. Na verdade, acho que nenhum de nós sabe o que os outros pensam de nós, e se tudo aquilo que nos dizem é mesmo a verdade. Pensem, o que seria se soubéssemos tudo o que vai na cabeça das pessoas sobre nós? O que seria se, nós próprios dissemos tudo o que nos passa pela cabeça?  Podemos dizer, as vezes que quisermos, que preferíamos saber tudo o que pensam de nós, que nos dissessem toda a verdade, mas lá no fundo, não o queremos, porque não saberíamos lidar com isso, a verdade é que nos habitámos a lidar coma mentira.
E sim, muitas vezes, essa parece-nos a melhor solução, porque não queremos magoar quem nos é mais querido, porque nos custa ver as pessoas de quem mais gostamos sofrer, mas também, porque nos custa termos que ser nós a abrir-lhes os olhos, e também aí, estamos a mentir a nós próprios, porque não há pior do que não saber, por mais que digam, a omissão é muito pior do que sabermos a verdade sobre uma mentira.

Mais que as mentiras através das palavras, são aquelas que usamos contra nós próprios, a mentira que somos para nós, quando alteramos tudo aquilo que somos na realidade, todos os artifícios que usamos para que a nossa imagem esteja no seu melhor, não passando tudo de uma mentira. Sim, a maquilhagem é uma mentira que usamos para escondermos aquilo que não queremos que os outros vejam, ou mesmo que seja para nos sentirmos melhor, não somos nós, não é a nossa verdadeira essência. E sim, as plásticas que, hoje são um meio para apagarmos as nossas incertezas e inseguranças, também são uma máscara da realidade. Porque é mais fácil escondermos e darmos um melhor aspeto, do que lidarmos com aquilo que realmente somos. Não seria muito melhor se formos capazes de nos sentirmos bem com aquilo que temos na realidade, sem usar estes artifícios? Não seria melhor se, pelo menos, conseguíssemos ser sinceros connosco próprios? Se conseguíssemos que as nossas amizades e relacionamentos se baseassem na honestidade, por mais doloroso que fosse? Bem, estas são apenas mais daquelas difíceis perguntas sem resposta.


Sim, o Homem vive, lado a lado, com a mentira, mas apesar disso, a verdade continua a ser sempre o melhor caminho, mas como em tudo, nunca o mais fácil. Qual a tua escolha?