No
início, revelei o sonho de que as minhas palavras pudessem fazer a diferença,
pudessem deixar uma marca. Cada artigo que escrevo espelha esse desejo. Hoje
gostava que fizessem uma reflexão comigo, que cada um de vós pense naquilo que vos
rodeia, no que veem diariamente, no que têm, no que sentem, e principalmente na
sorte que cada um de nós possui.
A
cada dia que passa conheço um mundo mais desigual, mais injusto e mais cruel, e
o que mais me magoa é perceber que, também eu diariamente vivo na cegueira da
realidade que assombra a maioria do mundo onde vivemos. Quanto mais leio, mais
assustada fico com o rumo que a humanidade segue, não falo só dos atrozes
atentados em Paris. Falo das guerras que ignoramos, nas vidas de milhares de
pessoas que todos os dias ouvem o som das armas, das bombas, das mortes que os
rodeia. Falo nas crianças que dormem na rua porque a sua casa lhes foi roubada,
porque viram a morte mesmo ao seu lado. Falo em todos os refugiados que fogem
porque apenas desejam uma vida, simples como isso, uma vida. Falo naqueles que
se veem restringidos nas suas liberdades, naqueles que são condenados por
acreditarem e defenderem uma causa, naqueles que morrem tentando contar a
verdade.
Eu
pergunto, onde é que tudo isto é justo? Porque? Porque é que eu tive a sorte de
nascer num país no qual, digam o que digam, tenho acesso às mais básicas
necessidades do ser humano e acima de tudo, tenho paz e liberdade, enquanto
outros nasceram num inferno? Acima de tudo pergunto-me, até que ponto é que
tenho dado o devido valor à sorte que tenho, às oportunidades que tenho, até
que ponto é que tenho feito da minha vida algo que me encha de orgulho? E tu?
Até que ponto é que tens feito a tua vida valer a pena?
Perante
o estado de alerta que soa na Europa com o terrorismo, todos nós sentimos na
pele a incompreensão, a revolta e acima de tudo o medo do futuro. Bem, querem
saber uma coisa? Há quem sinta tudo isso desde o dia em que chegou a este
mundo, há quem desse tudo pela oportunidade de aprender, de estudar, de dançar,
de vestir o que bem lhe apetecesse, de dizer o que sentia, há quem desse tudo
por, pelo menos uma vez, sentir segurança. Por essas pessoas que dariam tudo
para estar no teu lugar, por ti, pergunto: lutaste o suficiente? Se não, do que
estás à espera? Não te deixes vencer pelo medo, não te deixes acomodar pelo
conforto, luta por ti, luta pela tua vida, e acima de tudo, não te esqueças de
quem está ao teu lado, olha-o, ouve-o, não o julgues, não te deixes assombrar
pelo preconceito, dá a mão, partilha, faz o que puderes, porque acredita que
são com esses gestos que se muda o mundo e é com esses gestos que vences o
medo.
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