Desde Janeiro
deste ano, após os ataques terroristas ao Charlie Hebdo que muita tinta correu
sobre o Daesh, o terror e as respostas que teriam de ser dadas. Desde Janeiro
que pouco mudou, a não ser para pior. Depois de um ataque a um alvo específico,
eis que uma acção coordenada espalha o pânico e a morte em vários pontos da
cidade de Paris procurando o maior dano possível no meio de cidadãos comuns.
Atacaram um bairro e locais de arte e cultura, atacaram a nossa maneira de
viver, a nossa cultura e o nosso bem-estar que tanto incomoda as suas visões
dantescas. Não podemos deixar que nos tirem isso e não vamos viver com medo.
Desde o início do ano que têm sido
organizados esforços conjuntos e mecanismos de monitorização mas ainda com
várias limitações sobretudo por parte dos serviços de intelligence. A resposta não pode ser dada de forma separada por
cada país como se cada qual tivesse as suas preocupações mas sim através de um
consenso diplomático entre os actores externos que inclua uma articulação entre
EUA, Rússia, Irão, Arábia Saudita e Turquia no combate ao terrorismo, e de uma
intensificação da luta no terreno.
129 mortos, 352 feridos, 2 desses
mortos eram portugueses. Enquanto esta desgraça prolifera na Síria e países
vizinhos, aos poucos passa de uma guerra regional para uma guerra de muito
maior escala, à medida que vemos realidades que nos são tão próximas e
familiares a serem alvo de carnificinas e de perseguição a infiéis.
Não quero dizer que o mesmo que
sucede no Líbano, Síria ou Iraque não seja digno da mesma consternação e união,
mas sentir essa realidade cada vez mais próxima faz-nos, enquanto ser humanos, sentir
essa desgraça como mais nossa por mais hipócrita e mesquinho que possa parecer.
Sofro com as populações da Síria da mesma forma que sofro com as vítimas
francesas mas acredito que da mesma forma que esta dor do dia 13 de Novembro me
é mais próxima e palpável também se ganha a noção de que podia ter acontecido
em qualquer outra sociedade democrática.
Como monitorizar milhares de
indivíduos suspeitos e outros tantos que não o são? De onde vêem, como são
financiados? Como atacar alvos dispersos? Qual o objectivo de fechar fronteiras
se estes indivíduos se encontram imiscuídos nas sociedades ocidentais já, por
vezes, muito antes do despertar desta onda de terrorismo do Estado Islâmico?
Não quero de todo identificar-me com
a ideia de que a religião muçulmana é a responsável, que quem a pratica apoia
estes actos, porque essa não é a verdade. O que é verdade, é que ao longo da
história se tem mostrado quão facilmente uma religião pode levar a atitudes extremistas
e a matar em nome de um deus. A reflexão que tem de ser feita tem de ser isenta
de ideologias. E o que quero fazer com este testemunho pessoal é chamar a
atenção para a facilidade que estes monstros têm em se infiltrar na nossa
sociedade (de notar que cerca de 6000 a 8000 cidadãos europeus se tornaram
combatentes jihadistas) e no quão difícil pode ser parar um movimento que
qualquer pessoa sã não consegue compreender a ideia e as motivações que estão
por detrás, e que para além disso se espalharam por vastos territórios.
A situação ganhou uma dimensão e
complexidades que torna qualquer intervenção armada muito problemática e por
isso são mais que nunca necessários esforços para uma resposta coordenada. Os
obstáculos são grandes e vai ser necessária muita coragem para enfrentar o que
está para vir, mas a segurança não vai ser ganha se nos escondermos nas nossas
fronteiras e vivermos num clima de terror e subserviência. Não vamos deixar que estes ataques sigam
impunes, que os nossos valores sejam deitados por terra nem que nos verguem e
espezinhem. As provocações são claras e sangrentas e a violência tem de ser
respondida com violência pois só assim será possível defender as populações e
honrar as mortes que ocorrem por todo o mundo devido às atrocidades cometidas
pelos radicais islâmicos.
Em parte o Islão tem de se demarcar
deste radicalismo porque obviamente que não são de todo a mesma coisa, tem de
ser realizado um controlo mais apertado e pôr em prática uma acção concertada.
Isto voltará a acontecer se não nos
anteciparmos. Não basta agir depois. As pessoas que morreram, as que correram
em pânico pelas ruas ao som dos tiros, os que viram outros morrer à sua frente,
os que perderam entes amados e sobreviveram a esta tragédia e nunca mais serão
os mesmos, pelos familiares que estão a passar pela mais profundas das dores, por
todos eles urge uma resposta. Todos nós merecemos e ansiamos uma reposta a esta
matança. Se é preciso acontecimentos destes para se sentirem as reacções
internacionais, ao menos que estas tenham o seu efeito prático.
Essa resposta pode passar por um
maior controlo e policiamento, medidas mais duras e discurso mais severo em
detrimento talvez e alguns direitos, a luta tem de ser intensificada e sem mais
misericórdia. Os serviços de segurança têm de estar mais dispostos a partilhar
informação entre si e não deixar que existam aberturas para este tipo de
situações, porque a melhor forma de combater o terrorismo passa pela prevenção.
“É um ataque contra todos nós”
disseram os líderes europeus num comunicado conjunto, um “acto de guerra”
afirmou Hollande. A guerra já foi declarada há muito tempo e se é guerra que
querem, é guerra que irão ter.
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