15/11/2015

É guerra que querem, é guerra que irão ter

Desde Janeiro deste ano, após os ataques terroristas ao Charlie Hebdo que muita tinta correu sobre o Daesh, o terror e as respostas que teriam de ser dadas. Desde Janeiro que pouco mudou, a não ser para pior. Depois de um ataque a um alvo específico, eis que uma acção coordenada espalha o pânico e a morte em vários pontos da cidade de Paris procurando o maior dano possível no meio de cidadãos comuns. Atacaram um bairro e locais de arte e cultura, atacaram a nossa maneira de viver, a nossa cultura e o nosso bem-estar que tanto incomoda as suas visões dantescas. Não podemos deixar que nos tirem isso e não vamos viver com medo.
            Desde o início do ano que têm sido organizados esforços conjuntos e mecanismos de monitorização mas ainda com várias limitações sobretudo por parte dos serviços de intelligence. A resposta não pode ser dada de forma separada por cada país como se cada qual tivesse as suas preocupações mas sim através de um consenso diplomático entre os actores externos que inclua uma articulação entre EUA, Rússia, Irão, Arábia Saudita e Turquia no combate ao terrorismo, e de uma intensificação da luta no terreno.
            129 mortos, 352 feridos, 2 desses mortos eram portugueses. Enquanto esta desgraça prolifera na Síria e países vizinhos, aos poucos passa de uma guerra regional para uma guerra de muito maior escala, à medida que vemos realidades que nos são tão próximas e familiares a serem alvo de carnificinas e de perseguição a infiéis.
            Não quero dizer que o mesmo que sucede no Líbano, Síria ou Iraque não seja digno da mesma consternação e união, mas sentir essa realidade cada vez mais próxima faz-nos, enquanto ser humanos, sentir essa desgraça como mais nossa por mais hipócrita e mesquinho que possa parecer. Sofro com as populações da Síria da mesma forma que sofro com as vítimas francesas mas acredito que da mesma forma que esta dor do dia 13 de Novembro me é mais próxima e palpável também se ganha a noção de que podia ter acontecido em qualquer outra sociedade democrática.
            Como monitorizar milhares de indivíduos suspeitos e outros tantos que não o são? De onde vêem, como são financiados? Como atacar alvos dispersos? Qual o objectivo de fechar fronteiras se estes indivíduos se encontram imiscuídos nas sociedades ocidentais já, por vezes, muito antes do despertar desta onda de terrorismo do Estado Islâmico?
       
     Portugal é considerado por todos um país seguro. Eu sinto-me segura, no entanto há aproximadamente um ano fui provavelmente vítima de uma tentativa de recrutamento por parte de um membro da ISIS. E agora volto a recordar esse dia. Um rapaz da minha idade de feições árabes, supostamente turista por uma semana em Portugal, residia em França e aproximou-se de mim numa Igreja católica para discutir o seu credo muçulmano, até que o discurso se modificou progressivamente com vista a uma autêntica “lavagem cerebral”.
            Não quero de todo identificar-me com a ideia de que a religião muçulmana é a responsável, que quem a pratica apoia estes actos, porque essa não é a verdade. O que é verdade, é que ao longo da história se tem mostrado quão facilmente uma religião pode levar a atitudes extremistas e a matar em nome de um deus. A reflexão que tem de ser feita tem de ser isenta de ideologias. E o que quero fazer com este testemunho pessoal é chamar a atenção para a facilidade que estes monstros têm em se infiltrar na nossa sociedade (de notar que cerca de 6000 a 8000 cidadãos europeus se tornaram combatentes jihadistas) e no quão difícil pode ser parar um movimento que qualquer pessoa sã não consegue compreender a ideia e as motivações que estão por detrás, e que para além disso se espalharam por vastos territórios.
            A situação ganhou uma dimensão e complexidades que torna qualquer intervenção armada muito problemática e por isso são mais que nunca necessários esforços para uma resposta coordenada. Os obstáculos são grandes e vai ser necessária muita coragem para enfrentar o que está para vir, mas a segurança não vai ser ganha se nos escondermos nas nossas fronteiras e vivermos num clima de terror e subserviência.    Não vamos deixar que estes ataques sigam impunes, que os nossos valores sejam deitados por terra nem que nos verguem e espezinhem. As provocações são claras e sangrentas e a violência tem de ser respondida com violência pois só assim será possível defender as populações e honrar as mortes que ocorrem por todo o mundo devido às atrocidades cometidas pelos radicais islâmicos.
            Em parte o Islão tem de se demarcar deste radicalismo porque obviamente que não são de todo a mesma coisa, tem de ser realizado um controlo mais apertado e pôr em prática uma acção concertada.
            Isto voltará a acontecer se não nos anteciparmos. Não basta agir depois. As pessoas que morreram, as que correram em pânico pelas ruas ao som dos tiros, os que viram outros morrer à sua frente, os que perderam entes amados e sobreviveram a esta tragédia e nunca mais serão os mesmos, pelos familiares que estão a passar pela mais profundas das dores, por todos eles urge uma resposta. Todos nós merecemos e ansiamos uma reposta a esta matança. Se é preciso acontecimentos destes para se sentirem as reacções internacionais, ao menos que estas tenham o seu efeito prático.
            Essa resposta pode passar por um maior controlo e policiamento, medidas mais duras e discurso mais severo em detrimento talvez e alguns direitos, a luta tem de ser intensificada e sem mais misericórdia. Os serviços de segurança têm de estar mais dispostos a partilhar informação entre si e não deixar que existam aberturas para este tipo de situações, porque a melhor forma de combater o terrorismo passa pela prevenção.
            “É um ataque contra todos nós” disseram os líderes europeus num comunicado conjunto, um “acto de guerra” afirmou Hollande. A guerra já foi declarada há muito tempo e se é guerra que querem, é guerra que irão ter.


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