14/05/2016

Temos mais olhos que barriga?

            Quem não gosta de passar o final de tarde numa esplanada a olhar par ao pôr-do-sol, ir jantar a um restaurante com a cara-metade ou passar pelo novo spot da moda depois de um dia longo e cansativo de trabalho. Imagino que quase toda a gente goste de desfrutar destes momentos quer trabalhe ou não, quer seja pelo convívio ou por um momento de lazer que quebre a rotina e recarregue a bateria para tarefas mais chatas.
            Eu sou uma dessas pessoas que sempre que pode arranja uma desculpa para visitar um novo estabelecimento, para descobrir a oferta gastronómica, para explorar novos lugares e para experimentar o conforto de um espaço diferente e criativo.
            Mas a sensação que tenho e que cada vez mais tenho tendência para comprovar, é que tanto a nossa necessidade de frequentar este tipo de espaços acaba por toldar um pouco a nossa percepção da verdadeira qualidade de um serviço ou do produto em questão como os próprios estabelecimentos descuram muito dessa dimensão enquanto se focam na aparência in e vistosa.
            Vejamos, um grupo de amigas entra num bar- restaurante e faz o seu pedido. Enquanto esperam é óbvio que vão aproveitar o ambiente para tirar umas 10000 mil selfies junto da decoração vintage ou então poses ensaiadas na secção das bebidas. Giro. Mas e o pedido? Esse ainda não chegou mas está tudo tão ocupado a fazer upload das fotos no instagram que nem notam que esperam um quarto de hora por umas quantas sobremesas e cafés a transbordar de natas.
            A comida tem óptimo aspecto. Pode nem ser grande coisa, muito menos para o que vão ter de pagar no final mas o que interessa isso se o espaço recém aberto anda nas bocas do mundo? O que interessa é que estão lá. Giras e com estilo, numa coffeeshop ainda mais gira e estilosa.
            Não critico, acho fácil cair nesse erro e só muito recentemente começo a dissecar os locais que frequento com muito mais atenção e muitos deles deixaram de fazer parte das minhas escolhas exactamente porque me senti enganada pelas cores, pela música, pela apresentação da comida e disposição dos sofás com vista sobre a cidade. Também comemos com os olhos, aliás está cientificamente provado que tal acontece visto que a visão participa com uma parte na percepção que temos ao provar um alimento.
            Também é verdade que pagamos pelo que vemos e não só pelo que comemos, e isso não é desonesto. Mas se a fasquia se tornou tão alta e a cada esquina aparecem novos locais de culto cujas paredes em vidro nos fazem olhar com curiosidade para dentro, então essa fasquia deveria ter aumentado proporcionalmente face áquilo que realmente dá nome ao local. Eu até posso achar imensa graça ao espaço e à farda das empregadas, mas a minha inteligência e sentidos não devem ficar dormentes por isso, muito menos quando a comida na verdade é uma porcaria, passo a expressão, ou simplesmente não faz jus aquilo que eram as nossas expectativas.

            Pense duas vezes antes de avaliar, é fácil comprar gato por lebre numa sociedade que cada vez mais se rege por aparências. 

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