Quem não gosta de passar o final de
tarde numa esplanada a olhar par ao pôr-do-sol, ir jantar a um restaurante com
a cara-metade ou passar pelo novo spot da moda depois de um dia longo e
cansativo de trabalho. Imagino que quase toda a gente goste de desfrutar destes
momentos quer trabalhe ou não, quer seja pelo convívio ou por um momento de
lazer que quebre a rotina e recarregue a bateria para tarefas mais chatas.
Eu sou uma dessas pessoas que sempre
que pode arranja uma desculpa para visitar um novo estabelecimento, para
descobrir a oferta gastronómica, para explorar novos lugares e para experimentar
o conforto de um espaço diferente e criativo.
Mas a sensação que tenho e que cada
vez mais tenho tendência para comprovar, é que tanto a nossa necessidade de
frequentar este tipo de espaços acaba por toldar um pouco a nossa percepção da
verdadeira qualidade de um serviço ou do produto em questão como os próprios estabelecimentos
descuram muito dessa dimensão enquanto se focam na aparência in e vistosa.
Vejamos, um grupo de amigas entra
num bar- restaurante e faz o seu pedido. Enquanto esperam é óbvio que vão
aproveitar o ambiente para tirar umas 10000 mil selfies junto da decoração vintage ou então poses ensaiadas na
secção das bebidas. Giro. Mas e o pedido? Esse ainda não chegou mas está tudo
tão ocupado a fazer upload das fotos
no instagram que nem notam que
esperam um quarto de hora por umas quantas sobremesas e cafés a transbordar de
natas.
A comida tem óptimo aspecto. Pode
nem ser grande coisa, muito menos para o que vão ter de pagar no final mas o
que interessa isso se o espaço recém aberto anda nas bocas do mundo? O que
interessa é que estão lá. Giras e com estilo, numa coffeeshop ainda mais gira e estilosa.
Não critico, acho fácil cair nesse
erro e só muito recentemente começo a dissecar os locais que frequento com
muito mais atenção e muitos deles deixaram de fazer parte das minhas escolhas
exactamente porque me senti enganada pelas cores, pela música, pela
apresentação da comida e disposição dos sofás com vista sobre a cidade. Também
comemos com os olhos, aliás está cientificamente provado que tal acontece visto
que a visão participa com uma parte na percepção que temos ao provar um
alimento.
Também é verdade que pagamos pelo
que vemos e não só pelo que comemos, e isso não é desonesto. Mas se a fasquia
se tornou tão alta e a cada esquina aparecem novos locais de culto cujas
paredes em vidro nos fazem olhar com curiosidade para dentro, então essa
fasquia deveria ter aumentado proporcionalmente face áquilo que realmente dá
nome ao local. Eu até posso achar imensa graça ao espaço e à farda das empregadas,
mas a minha inteligência e sentidos não devem ficar dormentes por isso, muito
menos quando a comida na verdade é uma porcaria, passo a expressão, ou
simplesmente não faz jus aquilo que eram as nossas expectativas.
Pense duas vezes antes de avaliar, é
fácil comprar gato por lebre numa sociedade que cada vez mais se rege por
aparências.
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