09/05/2016

"Alinhar mente, olho e coração"

          Faço fotografias desde pequena, desde que me lembro de fotografar uma flor de laranjeira. Hoje, vejo a fotografia como um traço da minha personalidade e uma forma de a expressar. Num mundo em que fotografar se tornou tão banal, e onde as redes sociais, telemóveis e máquinas cada vez mais modernas tornam tudo tão automático e instantâneo, poder sentir aquilo que está para lá da lente tornou-se um prazer ainda maior por tudo aquilo que tem de especial.Porque quem faz a fotografia é o fotografo, o instrumento pouco importa.

     Contrario a ideia de que a fotografia é uma representação da realidade, porque considero que é uma expressão da forma como olhamos para ela ou apenas daquilo que queremos passar dessa realidade, e até em algumas situações, poderá ser uma forma de ocultar a verdadeira realidade e mostrar outra completamente diferente, ou a que nem todos vêem.
      Acredito que a minha visão artística e a minha personalidade se reflectem nas fotografias que revelo, caso contrário não existiriam tantas representações diversas do mesmo tema e cenário. As interpretações são distintas, o que vemos difere de pessoa para pessoa bem como aquilo que nos capta a atenção, aquilo que consideramos belo e o que vemos de belo no feio.
          O que mais me fascina na fotografia é o momento íntimo com a câmara, o momento de escolher o enquadramento, rever a velocidade do obturador e ajustar o diafragma. É a isto que chamo fazer uma fotografia, seguido do processo de revelação na câmara escura. Trabalhar com os químicos e tempos de exposição até ver surgir a imagem no papel fotográfico que temos nas nossas mãos. É um momento mágico esse de revelar os negativos, de participar em todo o processo desde a captura até à materialização da foto.
         O meu estado de dependência desta máquina que desenha com luz é tal, que mesmo que não a tenha por perto é normal que a minha mente, alma e visão a substituam e olhem para o mundo que me rodeia enquadrando-o e fazendo o “click” para registar essa visão na minha memória. Essa é mais uma das razões que me fazem amar a arte da fotografia: a capacidade de preservar ao longo de gerações, memórias, eventos e pessoas como se fossem eternas. Posso voltar a elas e rever o que vivi, sentir os mesmos cheiros e sabores, e as mesmas sensações.

      Fascina-me poder mostrar a beleza nas coisas mais improváveis, curiosas e improváveis ou apenas registar momentos, relevantes na sua pequenez ou grandeza, porque fotografar é presenciar, é ver para além de olhar.

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