20/05/2016

Humanidade Off

Viva, caros facebookianos!

Como vai essa vida de fervorosos críticos da sociedade via online?

            É verdade, hoje quero falar-vos desta epidemia que parece ter invadido o mundo das redes sociais! A epidemia do destilar a raiva acumulada, em comentários ridículos, sem fundamento, e que em muitos casos, chega a roçar o preconceito e a falta de noção da realidade!
            Parece que as pessoas adoram esta coisa de estarem “escondidas” atrás de um computador, dá-lhes a liberdade para dizer tudo aquilo que nunca o conseguiriam dizer cara-a-cara. Eu entendo, é muito mais complicado olhar nos olhos das pessoas e dizer o que pensamos, não é? Ou então, ficam com o ego em alta, porque disseram tudo o que realmente pensam sobre aquele famoso que vos irrita, num comentário de facebook! Têm noção do quão ridículo isso é?
             A forma como se julga, critica e se rebaixa alguém que não se conhece é de facto surpreendente. E não, não é por verem uma pessoa todos os dias na televisão que a conhecem, ou que vos dá o direito de dizer tudo o que vos passa pela cabeça, sem a noção de que há palavras escritas que magoam. Como por exemplo, dizer que se aproveitam de um cancro para aparecer, ou que, passando a citar “Não entendo o alarido todo, quando lhe foi dito que seria 100% curável”, e então? Deixa-me adivinhar só porque é 100% curável, deixa de ser cancro, é isso? Como se a vida fosse uma série de percentagens certas de acontecimentos.
            Outro exemplo foi o agradável comentário de uma ouvinte, de uma reconhecida rádio, que comenta da seguinte forma a passagem de uma das locutoras para o programa da manha: “Com tanta gente melhor, vão logo escolher a pior de todas”, para melhorar, ainda identifica essa mesma locutora. Eu pergunto, sentiste-te melhor? A sério, o que é que se ganha com este tipo de comentários? Tudo bem, todos nós temos o direito à nossa opinião, mas também existe uma palavra, que eu acho que anda muito esquecida para alguns lados – que é o respeito! Sim, temos a liberdade de darmos a nossa opinião, mas temos o dever de respeitar os outros, e de não andarmos aos insultos de forma gratuita, ou com julgamentos descabidos, e pensamentos sem nexo, há que usar os neurónios que temos na nossa cabeça!

             É preocupante ver crianças publicarem vídeos onde mostram orgulhosos a forma horrível com que tratam um miúdo, como se isso as fizesse mais fortes, mais corajosos! E não contentes, ainda publicam para todo o mundo ver. Pensem bem nisto, a confiança que é preciso ter na atitude que tiveram para a mostrarem a todo o mundo, e para quê? Pior ainda é haver pessoas que seriam capazes de comentar a apoiar a situação, e pronto torna-se num assunto viral do mundo global!
 
             A tecnologia trouxe-nos inúmeras vantagens, dizem até que aproximou distâncias, e melhorou a comunicação entre as pessoas. Já eu penso, que apesar das vantagens óbvias, a verdade é que nos afastou ainda mais, tornou-nos mais desligados do mundo que nos rodeia, das pessoas, dos nossos amigos, da nossa própria família! Pior que isso, é a insensibilidade que passou a reinar. Somos seres humanos desligados da nossa humanidade, e isso é preocupante.


  

            Por favor, pensem antes de teclar qualquer coisa que vos venha à cabeça. E mais que isso, vivam a vida real! Saiam, olhem o mundo à vossa volta. Respirem. Sintam tudo. Passeiem, sozinhos, ou melhor ainda, com aqueles que vos são mais próximos!          Arranquem os ipad´s dos vossos filhos e levem-nos a brincar à rua, como muitos de vocês faziam nas vossas infâncias, bem mais felizes, aposto. E acima de tudo, respeitem mais os que vos rodeiam. Respeitem os seus trabalhos, os seus momentos menos bons, apoiem-nos, ou simplesmente pensem antes de escrever qualquer tipo de comentário, pensem mais “E se fosse eu a ler isto, como é que me sentiria?”. Sabermos colocar-nos no lugar dos outros, é das maiores capacidades que podemos ter, usem-na. E por favor, mantenham o vosso botão da humanidade ligado.

14/05/2016

Temos mais olhos que barriga?

            Quem não gosta de passar o final de tarde numa esplanada a olhar par ao pôr-do-sol, ir jantar a um restaurante com a cara-metade ou passar pelo novo spot da moda depois de um dia longo e cansativo de trabalho. Imagino que quase toda a gente goste de desfrutar destes momentos quer trabalhe ou não, quer seja pelo convívio ou por um momento de lazer que quebre a rotina e recarregue a bateria para tarefas mais chatas.
            Eu sou uma dessas pessoas que sempre que pode arranja uma desculpa para visitar um novo estabelecimento, para descobrir a oferta gastronómica, para explorar novos lugares e para experimentar o conforto de um espaço diferente e criativo.
            Mas a sensação que tenho e que cada vez mais tenho tendência para comprovar, é que tanto a nossa necessidade de frequentar este tipo de espaços acaba por toldar um pouco a nossa percepção da verdadeira qualidade de um serviço ou do produto em questão como os próprios estabelecimentos descuram muito dessa dimensão enquanto se focam na aparência in e vistosa.
            Vejamos, um grupo de amigas entra num bar- restaurante e faz o seu pedido. Enquanto esperam é óbvio que vão aproveitar o ambiente para tirar umas 10000 mil selfies junto da decoração vintage ou então poses ensaiadas na secção das bebidas. Giro. Mas e o pedido? Esse ainda não chegou mas está tudo tão ocupado a fazer upload das fotos no instagram que nem notam que esperam um quarto de hora por umas quantas sobremesas e cafés a transbordar de natas.
            A comida tem óptimo aspecto. Pode nem ser grande coisa, muito menos para o que vão ter de pagar no final mas o que interessa isso se o espaço recém aberto anda nas bocas do mundo? O que interessa é que estão lá. Giras e com estilo, numa coffeeshop ainda mais gira e estilosa.
            Não critico, acho fácil cair nesse erro e só muito recentemente começo a dissecar os locais que frequento com muito mais atenção e muitos deles deixaram de fazer parte das minhas escolhas exactamente porque me senti enganada pelas cores, pela música, pela apresentação da comida e disposição dos sofás com vista sobre a cidade. Também comemos com os olhos, aliás está cientificamente provado que tal acontece visto que a visão participa com uma parte na percepção que temos ao provar um alimento.
            Também é verdade que pagamos pelo que vemos e não só pelo que comemos, e isso não é desonesto. Mas se a fasquia se tornou tão alta e a cada esquina aparecem novos locais de culto cujas paredes em vidro nos fazem olhar com curiosidade para dentro, então essa fasquia deveria ter aumentado proporcionalmente face áquilo que realmente dá nome ao local. Eu até posso achar imensa graça ao espaço e à farda das empregadas, mas a minha inteligência e sentidos não devem ficar dormentes por isso, muito menos quando a comida na verdade é uma porcaria, passo a expressão, ou simplesmente não faz jus aquilo que eram as nossas expectativas.

            Pense duas vezes antes de avaliar, é fácil comprar gato por lebre numa sociedade que cada vez mais se rege por aparências. 

09/05/2016

"Alinhar mente, olho e coração"

          Faço fotografias desde pequena, desde que me lembro de fotografar uma flor de laranjeira. Hoje, vejo a fotografia como um traço da minha personalidade e uma forma de a expressar. Num mundo em que fotografar se tornou tão banal, e onde as redes sociais, telemóveis e máquinas cada vez mais modernas tornam tudo tão automático e instantâneo, poder sentir aquilo que está para lá da lente tornou-se um prazer ainda maior por tudo aquilo que tem de especial.Porque quem faz a fotografia é o fotografo, o instrumento pouco importa.

     Contrario a ideia de que a fotografia é uma representação da realidade, porque considero que é uma expressão da forma como olhamos para ela ou apenas daquilo que queremos passar dessa realidade, e até em algumas situações, poderá ser uma forma de ocultar a verdadeira realidade e mostrar outra completamente diferente, ou a que nem todos vêem.
      Acredito que a minha visão artística e a minha personalidade se reflectem nas fotografias que revelo, caso contrário não existiriam tantas representações diversas do mesmo tema e cenário. As interpretações são distintas, o que vemos difere de pessoa para pessoa bem como aquilo que nos capta a atenção, aquilo que consideramos belo e o que vemos de belo no feio.
          O que mais me fascina na fotografia é o momento íntimo com a câmara, o momento de escolher o enquadramento, rever a velocidade do obturador e ajustar o diafragma. É a isto que chamo fazer uma fotografia, seguido do processo de revelação na câmara escura. Trabalhar com os químicos e tempos de exposição até ver surgir a imagem no papel fotográfico que temos nas nossas mãos. É um momento mágico esse de revelar os negativos, de participar em todo o processo desde a captura até à materialização da foto.
         O meu estado de dependência desta máquina que desenha com luz é tal, que mesmo que não a tenha por perto é normal que a minha mente, alma e visão a substituam e olhem para o mundo que me rodeia enquadrando-o e fazendo o “click” para registar essa visão na minha memória. Essa é mais uma das razões que me fazem amar a arte da fotografia: a capacidade de preservar ao longo de gerações, memórias, eventos e pessoas como se fossem eternas. Posso voltar a elas e rever o que vivi, sentir os mesmos cheiros e sabores, e as mesmas sensações.

      Fascina-me poder mostrar a beleza nas coisas mais improváveis, curiosas e improváveis ou apenas registar momentos, relevantes na sua pequenez ou grandeza, porque fotografar é presenciar, é ver para além de olhar.

01/05/2016

Continuamos a chamar o táxi?


            A Uber apareceu em Portugal em 2014 e desde aí que tem conquistado muitos adeptos que pretendem deslocar-se de carro pela cidade de Lisboa e Porto, sendo uma nova alternativa aos tradicionais serviços prestados pelos taxistas.
            Mas se a app da Uber se mostrou um tremendo sucesso, nem todos ficaram contentes com esta novidade, sobretudo os taxistas experientes que olham para a Uber como um potencial problema para a continuação do seu negócio.
            Pessoalmente, apenas posso avaliar a prestação dos taxistas e devo dizer que não tenho quaisquer razões de queixa. Apesar de criticados por alguma conduta pouco profissional e certa dose de antipatia e outra dose de estereótipos, considero essas críticas a excepção visto que só posso aconselhar.
            Não sou cliente da Uber mas são visíveis as vantagens que oferecem a uma sociedade que cada vez mais usa as tecnologias como uma ferramenta no dia-a-dia. Penso que é exactamente essa componente que torna a Uber tão atractiva. O facto de ser moderna, com boa imagem e estar actualizada perante as necessidades dos seus utilizadores tanto no que diz respeito às formas de pagamento como o método prático de chamar um motorista e fazer tracking da viagem e tempo de espera, e mesmo o custo que é calculado automaticamente e que não dá espaço para desonestidade.
            Se as queixas dos taxistas são, na minha opinião, completamente fundamentadas visto constituírem argumentos para a defesa de concorrência desleal a verdade é que não raras vezes ouvi o descontentamento basear-se apenas no facto de a Uber representar simplesmente uma concorrência. Exacto, ter competição no mercado é sempre uma coisa chata, pode arruinar-nos os planos especialmente quando estamos habituados a um longo reinado sem problemas mas isso não é razão para a violência física e verbal que de que os motoristas da Uber têm sido vítimas por parte de taxistas que não se conformam com a sua existência.
            Os serviços prestados pelos taxistas não são inferiores mas o respeito e profissionalismo tem de existir, bem como a liberdade de escolha de acesso a diferentes serviços mas também não deixa de ser verdade que todos os taxistas são obrigados a ter certificado da profissão e licenças dos veículos o que explica a injustiça que invocam.

            Uber e Táxis não estão em pé de igualdade. E essa falta de igualdade é protegida por um vazio legal que permite à Uber continuar a funcionar. A solução da questão ainda está pendente e é possível que tenha de passar por alterações na lei, até lá, podemos sempre escolher como queremos chegar ao nosso destino de entre as opções que temos disponíveis, tal como escolhemos a operadora dos nossos telemóveis ou a companhia onde voamos.