Pára, arranca. Pára, arranca. Entra.
Sai. Entra. Sai. A cada recarga de passageiros, a cada paragem de autocarro, novas aventuras se encontram à sua espera. Se as diferentes localidades,
vizinhanças e avenidas podem ser mais proliferas em determinada espécie destes
tripulantes a verdade é que se encontram à espreita uma grande variedade de
ocupantes deste querido transporte público.
Quer de noite, quer de dia ou mesmo
nas primeiras horas da manhã não existem tempos mortos e nunca pode ter a
tranquilidade como garantida.
Passando àquilo que interessa, passo
a enumerar os diferentes tipos de passageiros de um autocarro e espero que não se identifique com nenhum e apenas os reconheça como companheiros de aventuras.
- o que fala
pelos cotovelos: todos nós conhecemos aquele parceiro de viagem com quem temos
o azar de estar lado a lado (ou sorte para quem gosta de desprender a língua) e
que não pára um minuto para respirar e fazer silêncio. Qualquer que seja o
assunto, o tempo nesse dia, ou a nossa cara de desagrado perante a falta de
oportunidade do nosso recém amigo, ele ou ela nunca parecem se aperceber do
esforço que aplicamos apenas para acenar com a cabeça em sinal de cordialidade.
Ah e estar com os phones nos ouvidos já não é solução. Podes até ser surdo. Ele
não se vai calar.
- a minha mala
também merece um lugar: arranjar lugar no autocarro nem sempre é tarefa fácil.
Em horas de ponta há quem fique preso nas portas de entrada e os restantes
apesar de já no interior do autocarro, acomodam-se como sardinhas em lata.
Contudo, ainda é possível encontrar passageiros que no auge do seu bom senso
acham por bem que o lugar do lado deve ser reservado à sua mala, seja uma
clutch, sacos de supermercado ou a troley que veio directamente do aeroporto.
Quando lançamos
aquele olhar que indica a nossa vontade de ocupar aquele lugar ou pedimos
educadamente que mova os objectos, ainda dá para ver o ultraje estampado nos
olhos destes passageiros decerto habituados ao luxo.
- os jovens
licenciados mas sem educação: como se diz por aí, ter um canudo não significa
ter educação e infelizmente ainda se encontra muito jovem-adulto a não
compreender a prioridade que deve ser dada a pessoas idosas, pessoas com
dificuldades físicas, grávidas e crianças. Se a outros não causa
desconforto estarem confortavelmente sentadas enquanto outras pessoas estão em
grande esforço físico para enfrentar uma viagem longa de autocarro sempre de
pé, eu não consigo deixar de ficar agitada com tanta falta de respeito e de
lançar olhares carregados enquanto rezo por um gesto de humanidade.
- o encosta:
intimidade física não parece ser um conceito conhecido de muita gente. Contacto
físico não é o meu forte, pelo menos com estranhos. O toque constante de braços
ou pernas, cabelos agitados para cima da minha cara, olhares indiscretos para
as sms ou redes sociais no nosso telemóvel são, ao que parece, actos de
sociabilidade que muito boa gente sente necessidade. E eu cá me encosto o mais
possível ao vidro/janela do autocarro até que a minha respiração embacie o
vidro, mas mesmo assim não costuma ser suficiente, o calor humano chega sempre até mim.
- a aparelhagem:
phones? Que é isso? Não sei nem nunca ouvi falar. Aliás nem sei qual é a vossa
preferência musical mas de certeza que o barulho que estou a ouvir a altos
berros, e ao qual chamo música, é Beethoven para os vossos sentidos. Aproveitem
que estou bem-disposto e desfrutem da vossa viagem, que sem mim seria
silenciosa e tranquila. Não há nada a fazer, vão sempre existir recuos na
história, neste caso é como se ainda circulassem por aí as aparelhagens em cima
do ombro, até aqui o vintage ficou trendy.
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