23/11/2015

É a vida...

No início, revelei o sonho de que as minhas palavras pudessem fazer a diferença, pudessem deixar uma marca. Cada artigo que escrevo espelha esse desejo. Hoje gostava que fizessem uma reflexão comigo, que cada um de vós pense naquilo que vos rodeia, no que veem diariamente, no que têm, no que sentem, e principalmente na sorte que cada um de nós possui.
A cada dia que passa conheço um mundo mais desigual, mais injusto e mais cruel, e o que mais me magoa é perceber que, também eu diariamente vivo na cegueira da realidade que assombra a maioria do mundo onde vivemos. Quanto mais leio, mais assustada fico com o rumo que a humanidade segue, não falo só dos atrozes atentados em Paris. Falo das guerras que ignoramos, nas vidas de milhares de pessoas que todos os dias ouvem o som das armas, das bombas, das mortes que os rodeia. Falo nas crianças que dormem na rua porque a sua casa lhes foi roubada, porque viram a morte mesmo ao seu lado. Falo em todos os refugiados que fogem porque apenas desejam uma vida, simples como isso, uma vida. Falo naqueles que se veem restringidos nas suas liberdades, naqueles que são condenados por acreditarem e defenderem uma causa, naqueles que morrem tentando contar a verdade.
Eu pergunto, onde é que tudo isto é justo? Porque? Porque é que eu tive a sorte de nascer num país no qual, digam o que digam, tenho acesso às mais básicas necessidades do ser humano e acima de tudo, tenho paz e liberdade, enquanto outros nasceram num inferno? Acima de tudo pergunto-me, até que ponto é que tenho dado o devido valor à sorte que tenho, às oportunidades que tenho, até que ponto é que tenho feito da minha vida algo que me encha de orgulho? E tu? Até que ponto é que tens feito a tua vida valer a pena?
Perante o estado de alerta que soa na Europa com o terrorismo, todos nós sentimos na pele a incompreensão, a revolta e acima de tudo o medo do futuro. Bem, querem saber uma coisa? Há quem sinta tudo isso desde o dia em que chegou a este mundo, há quem desse tudo pela oportunidade de aprender, de estudar, de dançar, de vestir o que bem lhe apetecesse, de dizer o que sentia, há quem desse tudo por, pelo menos uma vez, sentir segurança. Por essas pessoas que dariam tudo para estar no teu lugar, por ti, pergunto: lutaste o suficiente? Se não, do que estás à espera? Não te deixes vencer pelo medo, não te deixes acomodar pelo conforto, luta por ti, luta pela tua vida, e acima de tudo, não te esqueças de quem está ao teu lado, olha-o, ouve-o, não o julgues, não te deixes assombrar pelo preconceito, dá a mão, partilha, faz o que puderes, porque acredita que são com esses gestos que se muda o mundo e é com esses gestos que vences o medo. 



15/11/2015

É guerra que querem, é guerra que irão ter

Desde Janeiro deste ano, após os ataques terroristas ao Charlie Hebdo que muita tinta correu sobre o Daesh, o terror e as respostas que teriam de ser dadas. Desde Janeiro que pouco mudou, a não ser para pior. Depois de um ataque a um alvo específico, eis que uma acção coordenada espalha o pânico e a morte em vários pontos da cidade de Paris procurando o maior dano possível no meio de cidadãos comuns. Atacaram um bairro e locais de arte e cultura, atacaram a nossa maneira de viver, a nossa cultura e o nosso bem-estar que tanto incomoda as suas visões dantescas. Não podemos deixar que nos tirem isso e não vamos viver com medo.
            Desde o início do ano que têm sido organizados esforços conjuntos e mecanismos de monitorização mas ainda com várias limitações sobretudo por parte dos serviços de intelligence. A resposta não pode ser dada de forma separada por cada país como se cada qual tivesse as suas preocupações mas sim através de um consenso diplomático entre os actores externos que inclua uma articulação entre EUA, Rússia, Irão, Arábia Saudita e Turquia no combate ao terrorismo, e de uma intensificação da luta no terreno.
            129 mortos, 352 feridos, 2 desses mortos eram portugueses. Enquanto esta desgraça prolifera na Síria e países vizinhos, aos poucos passa de uma guerra regional para uma guerra de muito maior escala, à medida que vemos realidades que nos são tão próximas e familiares a serem alvo de carnificinas e de perseguição a infiéis.
            Não quero dizer que o mesmo que sucede no Líbano, Síria ou Iraque não seja digno da mesma consternação e união, mas sentir essa realidade cada vez mais próxima faz-nos, enquanto ser humanos, sentir essa desgraça como mais nossa por mais hipócrita e mesquinho que possa parecer. Sofro com as populações da Síria da mesma forma que sofro com as vítimas francesas mas acredito que da mesma forma que esta dor do dia 13 de Novembro me é mais próxima e palpável também se ganha a noção de que podia ter acontecido em qualquer outra sociedade democrática.
            Como monitorizar milhares de indivíduos suspeitos e outros tantos que não o são? De onde vêem, como são financiados? Como atacar alvos dispersos? Qual o objectivo de fechar fronteiras se estes indivíduos se encontram imiscuídos nas sociedades ocidentais já, por vezes, muito antes do despertar desta onda de terrorismo do Estado Islâmico?
       
     Portugal é considerado por todos um país seguro. Eu sinto-me segura, no entanto há aproximadamente um ano fui provavelmente vítima de uma tentativa de recrutamento por parte de um membro da ISIS. E agora volto a recordar esse dia. Um rapaz da minha idade de feições árabes, supostamente turista por uma semana em Portugal, residia em França e aproximou-se de mim numa Igreja católica para discutir o seu credo muçulmano, até que o discurso se modificou progressivamente com vista a uma autêntica “lavagem cerebral”.
            Não quero de todo identificar-me com a ideia de que a religião muçulmana é a responsável, que quem a pratica apoia estes actos, porque essa não é a verdade. O que é verdade, é que ao longo da história se tem mostrado quão facilmente uma religião pode levar a atitudes extremistas e a matar em nome de um deus. A reflexão que tem de ser feita tem de ser isenta de ideologias. E o que quero fazer com este testemunho pessoal é chamar a atenção para a facilidade que estes monstros têm em se infiltrar na nossa sociedade (de notar que cerca de 6000 a 8000 cidadãos europeus se tornaram combatentes jihadistas) e no quão difícil pode ser parar um movimento que qualquer pessoa sã não consegue compreender a ideia e as motivações que estão por detrás, e que para além disso se espalharam por vastos territórios.
            A situação ganhou uma dimensão e complexidades que torna qualquer intervenção armada muito problemática e por isso são mais que nunca necessários esforços para uma resposta coordenada. Os obstáculos são grandes e vai ser necessária muita coragem para enfrentar o que está para vir, mas a segurança não vai ser ganha se nos escondermos nas nossas fronteiras e vivermos num clima de terror e subserviência.    Não vamos deixar que estes ataques sigam impunes, que os nossos valores sejam deitados por terra nem que nos verguem e espezinhem. As provocações são claras e sangrentas e a violência tem de ser respondida com violência pois só assim será possível defender as populações e honrar as mortes que ocorrem por todo o mundo devido às atrocidades cometidas pelos radicais islâmicos.
            Em parte o Islão tem de se demarcar deste radicalismo porque obviamente que não são de todo a mesma coisa, tem de ser realizado um controlo mais apertado e pôr em prática uma acção concertada.
            Isto voltará a acontecer se não nos anteciparmos. Não basta agir depois. As pessoas que morreram, as que correram em pânico pelas ruas ao som dos tiros, os que viram outros morrer à sua frente, os que perderam entes amados e sobreviveram a esta tragédia e nunca mais serão os mesmos, pelos familiares que estão a passar pela mais profundas das dores, por todos eles urge uma resposta. Todos nós merecemos e ansiamos uma reposta a esta matança. Se é preciso acontecimentos destes para se sentirem as reacções internacionais, ao menos que estas tenham o seu efeito prático.
            Essa resposta pode passar por um maior controlo e policiamento, medidas mais duras e discurso mais severo em detrimento talvez e alguns direitos, a luta tem de ser intensificada e sem mais misericórdia. Os serviços de segurança têm de estar mais dispostos a partilhar informação entre si e não deixar que existam aberturas para este tipo de situações, porque a melhor forma de combater o terrorismo passa pela prevenção.
            “É um ataque contra todos nós” disseram os líderes europeus num comunicado conjunto, um “acto de guerra” afirmou Hollande. A guerra já foi declarada há muito tempo e se é guerra que querem, é guerra que irão ter.


08/11/2015

Os Romanos é que tinham razão...



      Quem irá governar Portugal? É a pergunta que mais se ouve nos últimos dias! Já diziam, e bem, os romanos «estes nem se governam, nem se deixam governar». Começo a achar que isto já faz parte de nós, esta coisa de andarmos aqui às aranhas com as artimanhas que os políticos deste país arranjam para se entreterem. Tudo aquilo a que assisto nos últimos dias baseia-se no objectivo mais básico que ocupa a mente humana, desde a sua criação – O Poder.
  
      Basta olharmos para toda a história da humanidade e vemos que as guerras, as lutas, as crises, os golpes de estado, tudo isso, teve como início a vontade, a sede de poder de algum Homem, que um dia acordou e pensou quero aquilo! Não me entendam mal, a ambição é algo que faz parte de nós, todos nós devemos ter o desejo de alcançar algo, de ter alguma coisa nossa, mas o que não podemos deixar é que essa vontade nos cegue perante tudo aquilo que nos rodeia. A mesma cegueira que se alimenta da melhor amiga da nossa vontade de mandar: A hipocrisia.
    
      A hipocrisia com que nos colocamos atrás de um púlpito e assumimos uma eleição minoritária, como a maior das vitórias e mesmo sabendo que temos os dias contados olharmos nos olhos de um povo e dizermos que, a partir de agora, tudo vai melhorar. 
       A mesma hipocrisia com que assumimos que juntar três partidos formam a maioria da vontade popular, e que só isso nos dá a credibilidade de nos auto proclamarmos como futuro governo. 
       É exactamente essa mesma hipocrisia que nos leva a criticar quem nos governa, e no dia das eleições ficarmos sentados no sofá sem nos darmos “ao trabalho” de irmos expressar a nossa opinião num boletim. E depois o resultado é este, dois possíveis governos, um impasse, e a incerteza de como será o nosso futuro.