02/02/2015

Uns são filhos, outros enteados

Enquanto populações inteiras se levantam ultrajadas pelo recente atentado nos escritórios do jornal satírico Charlie Hebdo, pelo ataque aos valores ocidentais que representa, particularmente a liberdade de expressão; os atentados do grupo extremista islâmico Boko Haram parecem não produzir os mesmos efeitos.
            Apesar de alguns apelos para apoio internacional semelhante e de algumas campanhas bem sucedidas como a #BringBackOurGirls, parece-me que nada se compara aos milhões que inundaram as ruas de Paris e que se intitulam Charlie.
            A diferença de informações disponibilizadas para cada um destes atentados dão a entender que dados concretos e amostras visuais podem fazer a diferença e tornar a tragédia mais nossa, mais próxima e consequentemente mais verdadeira, porque olhos que não vêem, coração que não sente. É apenas mais um problema num lugar distante de nós, eles estão habituados e nós também não temos dificuldade em estar.
            O ataque a Baga foi também um enorme atentado à liberdade religiosa e democrática onde 2000 civis foram mortos, mas parece que estando na linha das actuações deste grupo não deve ser algo porque devamos ficar boquiabertos, apesar da escalada de violência.
            Descrito como uma carnificina, pelos milhares de mortos e feridos, sobretudo mulheres, crianças  e idosos que não conseguiram fugir ao fuzilamento indiscriminado, este foi o ataque com maior gravidade desde que o Boko Haram se encontra activo há 5 anos. Contudo, estas mortes e feridos que nem sequer conseguiram ter assistência não foram capa de revistas nem abriram os telejornais inúmeras vezes consecutivas.
            As diferenças culturais e antropológicas podem
desempenhar um papel aqui? Ou soa isso demasiado macabro quando afinal de contas somos todos humanos?
            O facto de o próprio governo nigeriano não reagir e se manter em silêncio sobre o massacre visto estar mais preocupado com a sua reeleição e o exército pouco ou nada fazer. pode contribuir para uma consequente inércia internacional.

            Mas se o que está em causa é sentirmo-nos realmente ameaçados e daí a maior atenção a ataques a países ocidentais devíamos pelo menos compreender que o terrorismo onde quer que surja, contribui com mais força para os terroristas em qualquer parte do mundo não só à nossa porta.

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