Enquanto
populações inteiras se levantam ultrajadas pelo recente atentado nos
escritórios do jornal satírico Charlie Hebdo, pelo ataque aos valores
ocidentais que representa, particularmente a liberdade de expressão; os atentados
do grupo extremista islâmico Boko Haram parecem não produzir os mesmos efeitos.
Apesar de alguns apelos para apoio
internacional semelhante e de algumas campanhas bem sucedidas como a #BringBackOurGirls,
parece-me que nada se compara aos milhões que inundaram as ruas de Paris e que
se intitulam Charlie.
A diferença de informações
disponibilizadas para cada um destes atentados dão a entender que dados
concretos e amostras visuais podem fazer a diferença e tornar a tragédia mais
nossa, mais próxima e consequentemente mais verdadeira, porque olhos que não
vêem, coração que não sente. É apenas mais um problema num lugar distante de
nós, eles estão habituados e nós também não temos dificuldade em estar.
O ataque a Baga foi também um enorme
atentado à liberdade religiosa e democrática onde 2000 civis foram mortos, mas
parece que estando na linha das actuações deste grupo não deve ser algo porque devamos
ficar boquiabertos, apesar da escalada de violência.
Descrito como uma carnificina, pelos
milhares de mortos e feridos, sobretudo mulheres, crianças e idosos que não conseguiram fugir ao
fuzilamento indiscriminado, este foi o ataque com maior gravidade desde que o
Boko Haram se encontra activo há 5 anos. Contudo, estas mortes e feridos que
nem sequer conseguiram ter assistência não foram capa de revistas nem abriram
os telejornais inúmeras vezes consecutivas.
As diferenças culturais e
antropológicas podem
desempenhar um papel aqui? Ou soa isso demasiado macabro
quando afinal de contas somos todos humanos?
O facto de o próprio governo nigeriano
não reagir e se manter em silêncio sobre o massacre visto estar mais preocupado
com a sua reeleição e o exército pouco ou nada fazer. pode contribuir para uma
consequente inércia internacional.
Mas se o que está em causa é
sentirmo-nos realmente ameaçados e daí a maior atenção a ataques a países
ocidentais devíamos pelo menos compreender que o terrorismo onde quer que surja,
contribui com mais força para os terroristas em qualquer parte do mundo não só
à nossa porta.
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