O seu país foi devastado pela guerra.
As memórias dos massacres perseguem-no. Os seus familiares saíram derrotados na sua
luta pela sobrevivência. Ódio, crueldade e violência sem limites. Tudo isto nos
é descrito por Emmanuel Jal, cujas palavras chocam e expressam toda a sua dor
mas também inspiram esperança mesmo após uma infância roubada pela guerra e por um passado de
menino-soldado.
Jal faz pequenas mas suficientes
contextualizações da guerra civil do Sudão e das suas diferentes fases à medida
que narra os anos que passou a correr pela vida ou
na linha da frente, ansioso por se vingar do inimigo que queria destruir e
roubar a sua terra.
Choca sobretudo a forma como a semente da
raiva e do ódio é colocada nos corações que de outra forma seriam puros, o
coração de crianças. Crianças que viram os seus pais e irmãos morrerem, irmãs
violadas e as suas casas incendiadas, que foram alvo de escárnio e olhares
maldosos de quem nem sequer conheciam, o povo muçulmano do norte do Sudão.
Depois de tudo o que testemunharam, estes
meninos foram levados para se tornarem parte do exército que defendia o sul do
Sudão, o exército da libertação. É assustador perceber como a ansiedade de combater e matar consegue ser tão maior
que o medo quando o cenário de guerra está por perto.
A forma como interesses económicos e políticos criam e aumentam clivagens entre grupos tribais e etnias, entre uma pele mais clara e outra mais escura, entre diferentes crenças religiosas é assustador e converte-se não só numa maldição de recursos mas na maldição de um povo.
A forma como interesses económicos e políticos criam e aumentam clivagens entre grupos tribais e etnias, entre uma pele mais clara e outra mais escura, entre diferentes crenças religiosas é assustador e converte-se não só numa maldição de recursos mas na maldição de um povo.
Emmanuel Jal aborda o início do
conflito e o seu desenvolvimento até à assinatura dos acordos de Paz e ainda fazendo uma referência ao Darfur, descrevendo
a miséria e destruição que grassam por todo o lado, a fome, a realidade dos
campos de refugiados, a sua experiência militar, disputas tribais, interesses
económicos, encontros e desencontros, e a angústia e desespero que pautavam
cada dia marcado pela proximidade da morte e por uma espera constante.
Mais do que um relato de guerra na
1ª pessoa, este livro é uma fonte enorme de esperança. Apesar de
menino-soldado, apesar do desejo de vingança, do ódio e de um corpo já sem
alma, continuamos a ver um menino que fala incessantemente em querer ir para a
escola para aprender e assim ajudar o seu país no futuro. Um menino que mais
tarde cresce, e que com o apoio de muita gente que acreditava nele e que viu
nos meninos perdidos do Sudão uma necessidade urgente de lhes dar uma mão cheia
de oportunidades que nunca tiveram na vida, renasce com a ajuda da música e na
reunião com Deus que o parecia ter abandonado no meio dos gritos de balas e
granadas.
Jal tornou-se um rapper reconhecido
internacionalmente e fez uso das suas palavras não só para cantar mas acima de
tudo para contar uma história que precisa de ser contada e espalhar uma
mensagem de paz. Tal como a sua mãe lhe dizia: "Um dia estaremos num sítio melhor"
Para saber mais:
Filme: War Child por Karim Chrobog
Website do rapper: http://emmanueljal.com/
Gua Africa: http://www.gua-africa.org/emma-academy-project/
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