05/06/2016

"War Child" por Emmanuel Jal - Review

            O seu país foi devastado pela guerra. As memórias dos massacres perseguem-no. Os seus familiares saíram derrotados na sua luta pela sobrevivência. Ódio, crueldade e violência sem limites. Tudo isto nos é descrito por Emmanuel Jal, cujas palavras chocam e expressam toda a sua dor mas também inspiram esperança mesmo após uma infância roubada pela guerra e por um passado de menino-soldado.
            Jal faz pequenas mas suficientes contextualizações da guerra civil do Sudão e das suas diferentes fases à medida que narra os anos que passou a correr pela vida ou na linha da frente, ansioso por se vingar do inimigo que queria destruir e roubar a sua terra.
            Choca sobretudo a forma como a semente da raiva e do ódio é colocada nos corações que de outra forma seriam puros, o coração de crianças. Crianças que viram os seus pais e irmãos morrerem, irmãs violadas e as suas casas incendiadas, que foram alvo de escárnio e olhares maldosos de quem nem sequer conheciam, o povo muçulmano do norte do Sudão.
       Depois de tudo o que testemunharam, estes meninos foram levados para se tornarem parte do exército que defendia o sul do Sudão, o exército da libertação. É assustador perceber como a ansiedade de combater e matar consegue ser tão maior que o medo quando o cenário de guerra está por perto.
A forma como interesses económicos e políticos criam e aumentam clivagens entre grupos tribais e etnias, entre uma pele mais clara e outra mais escura, entre diferentes crenças religiosas é assustador e converte-se não só numa maldição de recursos mas na maldição de um povo.
         Emmanuel Jal aborda o início do conflito e o seu desenvolvimento até à assinatura dos acordos de Paz e ainda fazendo uma referência ao Darfur, descrevendo a miséria e destruição que grassam por todo o lado, a fome, a realidade dos campos de refugiados, a sua experiência militar, disputas tribais, interesses económicos, encontros e desencontros, e a angústia e desespero que pautavam cada dia marcado pela proximidade da morte e por uma espera constante.
            Mais do que um relato de guerra na 1ª pessoa, este livro é uma fonte enorme de esperança. Apesar de menino-soldado, apesar do desejo de vingança, do ódio e de um corpo já sem alma, continuamos a ver um menino que fala incessantemente em querer ir para a escola para aprender e assim ajudar o seu país no futuro. Um menino que mais tarde cresce, e que com o apoio de muita gente que acreditava nele e que viu nos meninos perdidos do Sudão uma necessidade urgente de lhes dar uma mão cheia de oportunidades que nunca tiveram na vida, renasce com a ajuda da música e na reunião com Deus que o parecia ter abandonado no meio dos gritos de balas e granadas.

           Jal tornou-se um rapper reconhecido internacionalmente e fez uso das suas palavras não só para cantar mas acima de tudo para contar uma história que precisa de ser contada e espalhar uma mensagem de paz. Tal como a sua mãe lhe dizia: "Um dia estaremos num sítio melhor"

Para saber mais:

Filme: War Child por Karim Chrobog
Website do rapper: http://emmanueljal.com/
Gua Africa: http://www.gua-africa.org/emma-academy-project/

Sem comentários:

Enviar um comentário