Para mim, mulher que quer um dia ser
mãe, não consigo imaginar a dor de quem descobre que não pode ter filhos
biológicos, ou que sabe que terá de passar a sua vida nessa condição quando a
generalidade das mulheres tem esse direito de que pode ou não usufruir. A
felicidade de ser mãe é comparável com poucas coisas na vida e ser impedido de
o ser por razões biológicas é injusto para não dizer revoltante.
Recentemente, a Assembleia da
República aprovou as propostas que permitem o acesso às chamadas “barrigas de
aluguer” (gestação de substituição) nos casos de ausência, lesão ou doença do
útero a par do alargamento da Procriação medicamente assistida (PMA) a todas as
mulheres.
É um avanço que me apraz assistir
mas que não deixa de me deixar várias dúvidas. Obviamente que ficam em aberto
muitas questões morais, isto porque apesar de estas propostas terem sido
aprovadas e permitirem agora uma nova esperança a mulheres que de outra forma
não conseguiriam ter filhos, tudo o resto fico para depois.
Falo sobretudo no caso da gestação
de substituição, em que todas as perguntas ficam por responder no que toca a
saber como pode decorrer este processo, especificidades legais, quais os deveres
e poderes de cada parte, e assim por diante. Não se tratam de pormenores,
tratam-se exactamente dos tópicos mais problemáticos que podem fazer a
diferença entre uma lei bem ou mal sucedida numa questão como esta tão
sensível.
Para além disso entristece-me ver que
mais uma vez a opção pela adopção é deixada para trás enquanto ganham terreno
outras formas de possibilitar a maternidade. Compreendo a importância de poder
chamar a um filho nosso, de passar pelo processo de gravidez e de ver nele os
nossos traços mas será isso assim tão importante que a prioridade é alargar a
PMA a mulheres solteiras enquanto os processos de adopção continuam
extremamente morosos e burocráticos?
É pena ver como alguns pais esperam
anos a fio para poderem finalmente abraçar em sua casa uma criança que não é
sua, mas que será acolhida e tratada como se filho biológico se tratasse.
Passam por mil e um obstáculos para enfim poderem dar um lar a uma criança que
de outra forma nunca o teria, um acto de extrema generosidade e amor. Estes
casos merecem os mesmos desenvolvimentos políticos e sociais, merecem ser debatidos e
merecem também uma nova esperança como agora é dada a estas mulheres. Também
estes futuros pais estão à espera dessa oportunidade há muito tempo.
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