Já repararam que
a própria palavra selfie é indicativa do egocentrismo que ela representa?
Selfie significa “só eu”, como na canção “Me, myself and I”, que
tudo o resto não vale a pena ser mencionado, "just me", qual supra-sumo.
Esta mania das
selfies já dura pelo menos um ano e ao que parece veio para ficar. É vê-las
(sim as maiores culpadas são as meninas) no meio da rua, no café giro da
esquina, sentadas numa pose descontraída ou na maior das actividades e
agitação, a sacar o telemóvel do bolso e gravar o momento. Bem, neste caso nem
se trata de gravar o momento visto que nada demais se passa que não aconteça no
quotidiano e na vida de milhares de pessoas por todo o mundo. Se o objectivo
principal destas fotografias não é para mais tarde recordar nem visa nenhum
propósito em especial que as torne marcantes ou com um fim específico então o
que as torna tão viciantes se são tão banais? Provavelmente viciam porque
estamos viciados em nós mesmos de tal maneira que cultivamos este culto do eu
da forma mais absorvente possível.
Quase todos nos
podemos declarar culpados deste pecado da vida moderna, eu própria não me posso
escapar às acusações. Vivemos fechados em nós próprios e preocupados sobretudo
com o nosso umbigo de tal maneira que a única coisa de que nos lembramos na
pausa para o trabalho, no trânsito para casa, no nosso restaurante preferido ou
na nossa corrida matinal é da importância que terá uma foto nossa, da nossa
cara linda mas igual a tantas outras, do nosso look de parar o trânsito, mas
que se perde numa multidão de looks iguais em vez de parar para respirar e
esvaziar a mente.
O culto do eu é
mau? De facto não é. Gostarmos de nós próprios é das melhores terapias e
remédios para ser feliz e bem-sucedido mas existe uma linha que simplesmente
torna essa auto-estima, vaidade e orgulho numa obsessão ridícula e doentia.
Já viram que
giro é? Anda tudo obcecado consigo próprio. Tão obcecados que sobra pouco tempo
para deixar que se sintam obcecados por nós, até porque, claro, nós e nós
mesmos bastamos sim já conheço a história. Somos lindas estrelas brilhantes que
não precisamos de nada nem de ninguém porque enfim, tanta perfeição basta não
é? O mundo à nossa volta não merece assim tanta atenção vistas as coisas,
porque a minha (leia-se vossa) presença ofusca o resto. Não me interessa
fotografar uma paisagem nem tirar uma foto com o grupo de amigos e amigas
quando o centro de tudo só posso ser eu.
Não está
qualquer coisa de errado? Quero dizer, das dezenas de vezes por semana que
tiram fotos a vocês mesmos só porque sim, já experimentaram pensar no acto em
si? É como se estivessem constantemente a olhar-se ao espelho, só mesmo para
constatar que estão bem e se recomendam ao mundo. É como quando estamos a ver o
nosso reflexo nos retrovisores dos carros estacionados e somos apanhados porque
afinal estava alguém lá dentro, não sentem o quão ridículo é estarem a fazer
poses e boquinhas de pato? Com as selfies vai dar ao mesmo, basicamente gostamos
de apreciar a nossa beleza no ecrã do telemóvel e partilhá-la com o mundo,
alimentando o nosso ego gigante. Ah mas com uma diferença, dá para acrescentar
uns filtros. Sim, porque a final de contas, não somos assim tão bonitos.